Jeffrey Sachs alerta: plano de Donald Trump para Gaza é “caricatura do colonialismo” e ignora criação do Estado da Palestina
Economista denuncia que o plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos perpetua o domínio israelense e impede a soberania palestina
247 – O economista norte-americano Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia e um dos mais respeitados especialistas em desenvolvimento global, criticou duramente o novo plano de paz proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Faixa de Gaza. As declarações foram feitas em entrevista publicada YouTube, no vídeo intitulado “Something BIG Is About to Happen to Israel and the U.S.”.
Segundo Sachs, o projeto apresentado por Trump — que prevê a criação de um comitê internacional chefiado por ele próprio e pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair — é “uma caricatura do colonialismo” e representa “a continuidade do domínio britânico e americano sobre a Palestina iniciado em 1921”. O economista condenou a proposta por “substituir a soberania palestina por uma tutela estrangeira disfarçada de ajuda humanitária”.
A proposta rejeita a soberania palestina
Jeffrey Sachs lembrou que o mundo árabe apresentou uma proposta de paz em 2002, reiterada diversas vezes desde então, que prevê o reconhecimento mútuo entre Israel e um Estado palestino independente, com fronteiras definidas de acordo com as linhas de 4 de junho de 1967 e capital em Jerusalém Oriental.
“O plano de paz está na mesa há mais de 20 anos. É simples: dois Estados vivendo lado a lado sob o direito internacional”, afirmou Sachs. “Mas o que Israel e os Estados Unidos têm feito desde 1967 é impedir a criação do Estado da Palestina.”
O professor denunciou que Israel mantém uma política de apartheid e ocupação ilegal e que “os Estados Unidos atuam como sua subsidiária”, bloqueando resoluções da ONU e protegendo politicamente o governo de Benjamin Netanyahu.
“Há apenas dois oponentes ao acordo de paz: o governo de Israel e seu braço subordinado, o governo dos Estados Unidos”, disse.
O “plano Trump” e o retorno do colonialismo
Sachs classificou o novo projeto de Trump como “um absurdo” e “um insulto à soberania palestina”. O plano prevê que Gaza seja administrada por um comitê tecnocrático supervisionado por uma junta internacional presidida por Trump, com Blair como membro.
“É literalmente o sistema colonial britânico-americano recriado um século depois”, criticou. “O povo palestino não precisa da tutela de Donald J. Trump e Tony Blair. Precisa de soberania.”
O economista ironizou a proposta, que prevê também um “Plano Econômico Trump” para reconstrução de Gaza, chamando-a de “a versão moderna da Riviera de Jared Kushner”, em referência ao genro do presidente e autor de propostas semelhantes em 2020.
“O que Trump propõe não é um plano de paz, mas a perpetuação da dominação colonial. Ele ignora completamente a questão essencial: a existência de um Estado palestino”, declarou Sachs.
Netanyahu “não quer paz, quer o Grande Israel”
Durante a entrevista, Sachs foi categórico ao afirmar que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu é o principal obstáculo à paz.
“Netanyahu disse claramente na ONU: ‘Nunca haverá um Estado da Palestina’. Ele quer o que chama de Eretz Israel Shlema, o Grande Israel, governando todo o território do Jordão ao Mediterrâneo”, destacou.
Para o professor, o premier israelense “precisa da guerra para sobreviver politicamente”. E acrescentou:
“Ele é um mentiroso e um assassino. O mundo inteiro quer dois Estados. É hora de acabar com as mentiras de Netanyahu.”
“Os Estados Unidos precisam representar seu povo, não Israel”
Sachs encerrou a entrevista com um apelo direto ao presidente Donald Trump:
“Senhor presidente, a opinião do povo americano é que os Estados Unidos devem reconhecer o Estado da Palestina e exigir que Israel pare com seus assassinatos em Gaza. Isso é do interesse dos americanos.”
Segundo ele, a política externa norte-americana está “capturada pelos doadores sionistas e pelo lobby israelense”.
“No dia em que os Estados Unidos começarem a se comportar como os Estados Unidos, e não como colônia de Israel, haverá paz no Oriente Médio”, afirmou.
Contexto internacional
O professor destacou que mais de 150 países já reconhecem oficialmente o Estado da Palestina, e que a única barreira à sua admissão como membro pleno da ONU é o veto dos Estados Unidos.
A Assembleia Geral da ONU e a Corte Internacional de Justiça reconhecem desde 2023 que os territórios palestinos — Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental — pertencem legalmente ao futuro Estado palestino, conforme as fronteiras de 1967.
Para Sachs, “a solução é simples, legítima e amplamente aceita”, mas bloqueada por interesses geopolíticos e econômicos.
“Estamos em 2025, não em 1920. O colonialismo saiu de moda há muito tempo — e não precisamos dele de volta”, concluiu.
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