The Economist: Brasil oferece aos Estados Unidos uma lição de maturidade democrática
Revista destaca em sua capa julgamento de Jair Bolsonaro e compara resiliência institucional brasileira com retrocessos políticos estadunidenses
247 – A revista britânica The Economist publicou nesta quinta-feira (28) uma reportagem de capa sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, previsto para começar em 2 de setembro no Supremo Tribunal Federal (STF). O artigo, intitulado “O Brasil oferece aos Estados Unidos uma lição de maturidade democrática”, afirma que o país se tornou exemplo de como enfrentar os efeitos do populismo autoritário. Leia a reportagem original aqui.
Segundo a publicação, Bolsonaro, apelidado de “Trump dos trópicos”, será julgado por tentativa de golpe de Estado após se recusar a aceitar o resultado das urnas. A revista lembra que milhares de apoiadores atenderam ao chamado do ex-presidente, atacando as sedes dos Três Poderes em Brasília, num episódio que remeteu à invasão do Capitólio nos Estados Unidos.
As investigações apontaram que um general da reserva articulava um plano para anular o resultado eleitoral e que havia até conspirações para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para a Economist, a tentativa de ruptura fracassou não por falta de intenção, mas por incompetência de seus articuladores.
Comparações internacionais e impacto nos EUA
O texto ressalta que a experiência do Brasil contrasta com a de outras democracias. Na Polônia e no Reino Unido, partidos e líderes populistas seguem condicionando o debate político mesmo após derrotas. Já nos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, o país se mostra mais autoritário, corrupto e instável.
A Economist observa que, enquanto Trump interfere no Federal Reserve e ameaça cidades governadas por democratas, o Brasil busca reforçar suas instituições. O contraste fica ainda mais evidente diante das sanções impostas pelo governo norte-americano ao ministro do STF Alexandre de Moraes e das tarifas sobre produtos brasileiros. Para a revista, o impacto é limitado, já que apenas 13% das exportações do Brasil têm os EUA como destino.
STF, Constituição e necessidade de reformas
A análise também aponta que a democracia brasileira ainda enfrenta desafios. O Supremo Tribunal Federal, embora seja visto como guardião do regime democrático, acumula poderes e responsabilidades excessivos — de políticas fiscais a temas culturais. Em 2024, foram mais de 114 mil decisões judiciais. Essa sobrecarga e a possibilidade de ministros atuarem como vítimas, investigadores e juízes ao mesmo tempo levantam questionamentos sobre o equilíbrio institucional.
Além disso, a Constituição de 1988 é descrita como um texto “hiperdetalhado”, que engessa ajustes fiscais e cria despesas automáticas. O Congresso Nacional, ao assumir forte controle sobre o orçamento com emendas parlamentares e projetos de interesse próprio, também contribui para limitar investimentos e prejudicar o crescimento econômico.
Maturidade democrática e perspectivas
Apesar dos desafios, a publicação enxerga no Brasil sinais de maturidade política em meio à polarização global. A maioria da população reconhece que Bolsonaro tentou se manter no poder de forma ilegal. Até governadores conservadores, que dependem do apoio de sua base para crescer eleitoralmente, criticam seu estilo de governar.
Para a Economist, esse consenso abre espaço para reformas institucionais capazes de modernizar a política brasileira e reduzir tensões. “Ao contrário dos Estados Unidos, muitos dos principais políticos brasileiros querem jogar dentro das regras e avançar por meio de reformas”, aponta a revista.
No balanço final, a Economist conclui que, ao menos temporariamente, o papel de “adulto democrático” no hemisfério ocidental foi transferido para o Brasil.
