Trump impõe tarifas e sanções ao Brasil, mas exceções indicam espaço para negociação
Isenções para 42% das exportações aliviam impacto, mas sanção a Moraes expõe ofensiva política do presidente dos EUA contra o Brasil
247 - Num movimento que misturou estratégia econômica e ataque político, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou em um único dia a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky. A medida, que nos EUA é chamada de “pena de morte financeira”, marca uma escalada na pressão trumpista sobre o Brasil.
De acordo com reportagem do jornal O Globo, a lista de produtos brasileiros afetados pelo tarifaço teve quase 700 exceções, o que representa 42,3% das exportações do Brasil para os EUA, segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham). A brecha trouxe alívio ao governo Lula e ao setor empresarial. "Poderia ter sido pior", avaliam assessores do presidente. Ainda assim, setores como o de carne, café e etanol permanecem atingidos e cobram reação.
As isenções revelam que, embora não haja diálogo direto entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto, os tributos não são definitivos. Tudo depende de quem negocia e como, aponta a análise. A Embraer e o setor de suco de laranja, por exemplo, conseguiram escapar das tarifas graças à atuação de lobistas eficientes nos bastidores. O esforço não se estendeu a todos: outros setores não foram igualmente contemplados.
Interesses e exceções - O economista Armando Castelar, da FGV, destacou ao jornal O Globo que a Embraer foi a maior beneficiada pelas isenções: “As isenções foram especialmente nos bens manufaturados que são mais difíceis de desviar para outros destinos”.
Samuel Pessôa, também da FGV, calculou que o impacto potencial do tarifaço de 50% reduziria o crescimento do PIB brasileiro em 0,3 ponto percentual. Com as isenções, a perda esperada cai pela metade, para 0,15%, com efeito levemente desinflacionário. “Trump percebeu que o tarifaço machuca o consumidor americano, que são produtos difíceis de substituir, tirando o café”, afirmou.
A imprevisibilidade, no entanto, continua. A advogada Ana Caetano, do escritório Veirano Advogados, ressalta que a ordem executiva autoriza alterações unilaterais nas tarifas: “As tarifas podem mudar para cima e para baixo, a imprevisibilidade continua”, alertou.
Carlos Primo Braga, ex-diretor do Banco Mundial, reforça que muitas das exceções se devem ao fato de que os produtos brasileiros são insumos essenciais para a indústria americana. Mas alerta: “Na hipótese de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser condenado no julgamento em setembro, qual será o próximo passo dos EUA?”.
A ofensiva contra Moraes e o peso de Eduardo Bolsonaro - Se o impacto econômico ainda é contornável, as sanções contra Alexandre de Moraes marcam um ponto crítico. Trump cumpre, nesse caso, exatamente o que prometeu, e fontes em Washington não descartam que outros ministros do Supremo possam ser alvo no futuro.
De acordo com o jornal O Globo, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem sido peça-chave no endurecimento da postura americana. Parlamentares e lobistas dos EUA disseram a senadores brasileiros que as visões de Eduardo influenciam profundamente o trumpismo. Desde março, ele estaria atuando nos EUA para convencer congressistas da necessidade de sanções como forma de pressionar o Judiciário brasileiro a aliviar a situação de Bolsonaro e aprovar anistias aos golpistas do 8 de Janeiro.
Foi isso o que parlamentares e lobistas americanos disseram aos senadores brasileiros que passaram os últimos dias tentando sem sucesso se aproximar do governo Trump.
Tentativas frustradas de aproximação - Desde que Trump iniciou seu segundo mandato, o governo Lula aplicou uma cartilha tradicional de diplomacia para se aproximar da Casa Branca. A estratégia incluiu reuniões presenciais e virtuais com integrantes do governo americano, eventos culturais na embaixada e contato com empresas e congressistas. No entanto, nenhuma dessas ações surtiu efeito.
“Uma parte importante do governo Trump só quer se relacionar com os Bolsonaro. São funcionários que acham que as normas diplomáticas não importam, e isso virou um grande problema”, disse uma fonte em Washington.
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) realizou conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnik, e outros membros do governo, mas a resistência à diplomacia tradicional prevaleceu. Rumores indicam que Lutnik teria citado a situação jurídica de Bolsonaro como obstáculo para avanços comerciais.
Economia como único caminho viável - Analistas e fontes diplomáticas concordam que o único ponto capaz de sensibilizar Trump é o interesse econômico direto. Isso inclui investimentos de empresas brasileiras nos EUA ou garantias de vantagens para companhias americanas.
Mesmo assim, os riscos são altos. A base legal do tarifaço está sendo contestada nos tribunais dos EUA, e o caso deve chegar à Suprema Corte em 2026. Segundo Samuel Pessôa, “há uma esperança”, pois o uso da lei de emergência econômica internacional (IEEPA) para justificar o aumento de tarifas é frágil juridicamente.
Entre ironias e estratégias - Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, ironizou os recuos de Trump, classificando-os como "Taco" (Trump Always Chickens Out – Trump sempre amarela). Para ele, ao isentar setores estratégicos como o da aviação, Trump evitou “um tiro no próprio pé”.
Na prática, a decisão de Trump de vincular sanções políticas a tarifas econômicas contra o Brasil criou um impasse sem precedentes nas relações bilaterais. Para superá-lo, como afirma o professor Matias Spektor, da FGV, será necessário que a direita brasileira encontre uma nova liderança: “A relação entre os governos americano e brasileiro está em coma, mas os atores do setor privado encontraram uma brecha e indicaram um caminho”.
Essa liderança, segundo Spektor, terá como missão “isolar Eduardo Bolsonaro e reconstruir a relação com os Estados Unidos em nome da direita brasileira”.
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