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The Economist: Israel está perdendo apoio nos Estados Unidos

Revista britânica aponta desgaste na relação entre os dois países em meio ao genocídio em Gaza e à mudança da opinião pública norte-americana

Benjamin Netanyahu e Marco Rubio no Muro das Lamentações, em Jerusalém - 14/9/2025 (Foto: REUTERS/Nathan Howard)

247 - Em análise publicada na quinta-feira (18), a revista britânica The Economist afirma que Israel corre o risco de perder o apoio de seu aliado mais importante, os Estados Unidos, em meio ao isolamento internacional causado pelo genocídio em Gaza. Embora o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenha declarado recentemente, em visita ao Muro das Lamentações ao lado do secretário de Estado Marco Rubio, que a aliança com Washington é “tão forte e durável quanto as pedras” do local sagrado, a realidade apontada pela revista é distinta: a relação passa por um momento de desgaste sem precedentes.

De acordo com a The Economist, Israel se apoia hoje quase exclusivamente no suporte norte-americano, enquanto países antes próximos — como Austrália, Canadá, Reino Unido e França — avançam para reconhecer um Estado palestino durante a Assembleia Geral da ONU. A publicação ressalta que, sem a proteção diplomática de Washington, Israel estaria mais próximo de uma condição de pária internacional, com consequências graves para sua segurança política, jurídica e militar.

Erosão do apoio popular nos EUA

As pesquisas de opinião revelam sinais claros de afastamento da população americana em relação a Israel. Segundo a revista, a proporção de cidadãos que têm uma visão desfavorável do país atingiu 53%, contra 42% em 2022. Um levantamento da YouGov/The Economist mostrou ainda que 43% dos americanos acreditam que Israel comete genocídio em Gaza. Entre os democratas com mais de 50 anos, a visão negativa cresceu 23 pontos percentuais nos últimos três anos. Já entre republicanos com menos de 50 anos, o apoio, que em 2022 era de 63% a favor de Israel, agora está dividido igualmente entre israelenses e palestinos.

Até mesmo entre evangélicos, tradicionalmente vistos como base de apoio fiel a Israel, houve queda expressiva. O estudo aponta que entre 2018 e 2021 a proporção de jovens evangélicos que se posicionavam ao lado dos israelenses caiu de 69% para 34%, tendência que os pesquisadores acreditam ter se consolidado.

Divergências de valores e interesses

A The Economist explica que a erosão do apoio democrata está ligada sobretudo a questões de valores. Muitos jovens eleitores projetam a história de escravidão e colonialismo dos EUA na situação vivida pelos palestinos, ao mesmo tempo em que observam a guinada à direita da política israelense. Já no campo republicano, o afastamento decorre de interesses estratégicos e econômicos: cresce a insatisfação com o uso de recursos públicos para apoiar aliados estrangeiros, incluindo os cerca de US$ 300 bilhões destinados a Israel desde 1948.

O artigo lembra que as tensões se agravaram com a guerra em Gaza, especialmente diante das imagens de crianças famintas e da percepção de que Israel pode arrastar os Estados Unidos para novos conflitos no Oriente Médio, sobretudo contra o Irã. A revista também observa que a acusação de antissemitismo, usada com frequência para rechaçar críticas, perdeu força ao ser aplicada de forma indiscriminada.

Risco de ruptura estrutural

Embora alguns analistas apostem que a relação histórica sobreviverá às atuais tensões, a The Economist alerta que mudanças profundas na opinião pública são mais difíceis de reverter do que desentendimentos entre governos. A publicação sugere que Joe Biden pode ter sido o último presidente americano “instintivamente sionista”, o que deixa incertezas quanto ao futuro da aliança.

O apoio militar, garantido atualmente por um acordo de dez anos que prevê US$ 3,8 bilhões anuais, vence em 2028. Israel teme que o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se recuse a renovar o compromisso nos mesmos moldes, e busca reformular o pacto como uma “parceria”, mais focada em tecnologia e acesso a armamentos avançados.

Uma visão autárquica e arriscada

A análise conclui que não é certo esperar que a saída de Netanyahu resolva o problema. Israel, como democracia dividida, abriga setores poderosos que defendem a expansão de assentamentos e até a anexação de Gaza e partes da Cisjordânia. Em discurso recente, Netanyahu chegou a definir o país como uma “super-Esparta”, disposto a permanecer sozinho contra seus inimigos.

Para a The Economist, esse caminho baseado na autossuficiência militar pode se transformar em um erro estratégico fatal, capaz de afastar Israel de seu protetor mais importante. “Nenhum equívoco seria mais perigoso”, conclui a revista.

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