Nobel de Economia defende retaliação do Brasil contra tarifaço de Trump: "é preciso mostrar coragem"
Para Paul Krugman, Brasil "tem pouco a perder" e reação firme é mais eficaz do que concessões diante da postura unilateral dos EUA
247 - O economista norte-americano Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008, afirmou em entrevista à BBC News Brasil que o Brasil deve responder com firmeza ao novo pacote tarifário dos Estados Unidos. As novas tarifas, que devem entrar em vigor na próxima semana, impõem uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros — a mais alta já anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em sua atual escalada protecionista.
Para Krugman, que é professor da Universidade da Cidade de Nova York e especialista em comércio internacional, a melhor reação brasileira seria a retaliação comercial. Segundo ele, o país tem pouco a perder ao endurecer a postura diante da Casa Branca. “Tudo que vimos sobre a maneira como meu governo opera até agora é que as chances de realmente fazer [Trump] recuar são muito maiores se você mostrar que tem coragem e está preparado para reagir, do que se oferecer concessões”, afirmou.
Brasil deve retaliar, diz Krugman - O governo brasileiro ainda não anunciou uma resposta oficial, mas negocia com autoridades norte-americanas para tentar barrar a entrada em vigor do tarifaço no dia 1º de agosto. Krugman acredita que concessões por parte do Brasil não surtiriam efeito: “O Brasil tem tarifas um pouco mais altas que a média, poderia oferecer algumas reduções, mas isso não satisfaria nem de longe o governo Trump.”
Na visão do economista, como os Estados Unidos são apenas o terceiro maior parceiro comercial do Brasil — atrás da China e da União Europeia —, os riscos de uma retaliação são limitados. “O Brasil tem muito pouco a perder”, disse. Ele acrescentou que medidas de retaliação podem ter efeitos positivos no médio e longo prazo, ao expor os limites das ações norte-americanas: “Pode chegar um dia em que Trump e as pessoas ao redor dele vejam a futilidade de tentar intimidar o Brasil, e a chegada dessa data pode ser acelerada por retaliação.”
"O Pix é uma ameaça real ao sistema dos EUA" - Outro ponto de fricção entre os países é o sistema de pagamentos instantâneos brasileiro. Segundo Krugman, o Pix provocou reações de setores privados dos EUA, especialmente das operadoras de cartão de crédito, que estariam perdendo mercado. O economista considera “fundamentalmente insana” a decisão do governo norte-americano de incluir o Pix em uma investigação por suposta prática comercial desleal.
“Se um país tem um sistema de pagamento que pode fazer um trabalho melhor do que algo oferecido por uma empresa estrangeira, isso deveria ser perfeitamente razoável. Eu diria que, se alguém está violando a lei do comércio internacional, seriam os EUA”, declarou.
Krugman também relaciona a eficiência do Pix ao fracasso das criptomoedas. “O mundo das criptomoedas certamente odeia a ideia [do Pix]”, afirmou. “Quando você consegue mostrar em um gráfico que 93% dos brasileiros estão usando Pix para pagamentos e 2% dos americanos estão usando criptomoedas para comprar qualquer coisa, isso não é uma boa propaganda para a indústria de criptomoedas.”
Tarifaço tem motivação pessoal de Trump - Krugman acredita que o Brasil se tornou alvo da ofensiva comercial de Trump por razões políticas e pessoais. Ele menciona que o presidente dos EUA demonstrou indignação com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil. “A primeira coisa que ele menciona é que vocês [brasileiros] têm a ousadia de realmente levar a julgamento um ex-presidente que tentou anular uma eleição. Do ponto de vista de Trump, isso é pessoal. Ele claramente vê Bolsonaro como uma alma gêmea. E é disso que se trata.”
Estratégia de Trump pode sair pela culatra - Questionado sobre a eficácia da ofensiva tarifária de Trump, Krugman criticou os resultados práticos das negociações com outros países. “Os acordos que foram negociados até agora envolvem concessões bem pequenas. Muito do que está nesses acordos é praticamente sem sentido.” Ele também destacou que as tarifas, ao contrário do discurso oficial, representam uma forma de taxação interna nos EUA: “É um imposto que os Estados Unidos estão cobrando de si mesmos.”
Sobre os efeitos econômicos das tarifas, Krugman disse não ver risco iminente de recessão, mas alertou para um provável aumento único nos preços ao consumidor de 1,5% a 2%.
Democracia nos EUA em risco, Brasil é surpresa positiva - Ao final da entrevista, Krugman expressou profunda preocupação com o futuro da democracia norte-americana. “Há uma chance certamente muito alta de que os historiadores do futuro olharão para os EUA de hoje e digam que a democracia americana acabou em 2025.” O Brasil tem sido uma surpresa positiva. A democracia está se mostrando muito mais robusta do que muitas pessoas poderiam esperar”, ressaltou.
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