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'Trump ataca qualquer país que não reconheça sua supremacia', diz Nobel de Economia após tarifaço contra o Brasil

Paul Krugman afirma que "não há nada de econômico" no ataque de Trump e vê retaliação política, que vai penalizar a indústria e os consumidores dos EUA

Paul Krugman (Foto: Reuters)
Guilherme Levorato avatar
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247 - Em entrevista à Folha de S. Paulo, o economista norte-americano Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008, criticou duramente a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil. Segundo Krugman, a medida vai além de questões econômicas e revela um uso político do poder comercial norte-americano, com motivações autoritárias.

“O Brasil teve a ousadia de insistir em julgar Bolsonaro, que Trump claramente enxerga como um espírito afim. Não há nada de econômico na carta de Trump”, declarou o economista. Em artigo recente publicado em sua página pessoal, Krugman classificou a decisão como “maligna e megalomaníaca”, ironizando que o presidente norte-americano estaria implementando um programa informal de proteção a ditadores.

Retaliação política com impacto global - Krugman afirmou que não há precedentes na história dos Estados Unidos para o uso de tarifas como forma explícita de coerção política. Segundo ele, o caso brasileiro é emblemático porque escancara a tentativa de Trump de impor sua visão hegemônica ao mundo. “Acho que ele se sente ofendido por qualquer país que pareça contestar a sua visão de poder dos EUA”, disse.

Ao ser questionado sobre o impacto das relações diplomáticas no bloco dos BRICS, especialmente após o fortalecimento dos laços entre o Brasil e outros países emergentes, o economista evitou especulações sobre as intenções de Trump, mas reforçou o caráter punitivo da medida.

Defesa de Bolsonaro e ataque à democracia - Krugman também reiterou sua crítica a Jair Bolsonaro (PL), apontando o apoio de Trump como mais uma evidência da afinidade autoritária entre os dois. “Bolsonaro é claramente um autoritário —e tentar reverter uma eleição que perdeu mostra que ele não aceita a democracia quando não gosta do resultado”, afirmou.

Segundo ele, o gesto de Washington visa proteger figuras que seguem um modelo antidemocrático de poder. “Trump tem atacado qualquer país que não reconheça sua supremacia”, completou.

Impacto sobre consumidores e indústria dos EUA - De acordo com Krugman, a política tarifária de Trump —que atinge também produtos como cobre, essencial para a indústria— vai na contramão de qualquer estratégia para fortalecer a economia americana. “Ele está sistematicamente tornando a indústria americana menos competitiva”, alertou.

Mesmo com o peso das exportações brasileiras representando apenas 2% do PIB nacional, Krugman afirma que os efeitos podem ser significativos para setores específicos. Produtos como suco de laranja, café e açúcar —em que o Brasil é um dos principais fornecedores dos EUA— poderão encarecer no mercado americano, penalizando os consumidores.

“Pessoalmente, posso viver sem suco de laranja e açúcar, mas mexer com o café é um insulto pessoal”, ironizou.

Alternativas para o Brasil e reações no mercado - Diante da agressão comercial, Krugman acredita que o Brasil possui instrumentos para responder. “Tarifas recíprocas são, de fato, uma ferramenta relativamente eficaz”, avaliou, lembrando que o país tem déficit na balança comercial com os EUA. Ele ainda sugeriu o fortalecimento de laços com outros mercados, como uma alternativa estratégica.

O economista prevê ainda que o câmbio e os termos de troca brasileiros devem sofrer impactos, mas pondera que “isso não é um choque de primeira ordem”. Para ele, a médio prazo, a postura errática de Trump pode trazer prejuízos políticos ao próprio governo. “Em algum momento, os mercados vão reagir contra essa arbitrariedade”, concluiu.

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