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Fed entra em rota de colisão sobre corte de juros: "devemos basear a política nos dados", diz Waller

Divisão no banco central dos EUA expõe divergências sobre tarifas de Trump e futuro das taxas. Presidente critica Powell e pede cortes agressivos

Federal Reserve (Fed) (Foto: REUTERS/Jim Bourg)
Guilherme Levorato avatar
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247 - Um racha entre os principais dirigentes do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, evidencia a crescente incerteza sobre o rumo da política monetária no país. Segundo reportagem do Financial Times repercutida pela Folha de S. Paulo, as divergências ganharam novo capítulo na sexta-feira (20), quando Christopher Waller, um dos diretores da instituição, defendeu abertamente a necessidade de cortes na taxa de juros já em julho.

Waller, nomeado para o cargo ainda durante o primeiro mandato de Donald Trump em 2020 e apontado como possível sucessor de Jerome Powell na presidência do Fed, minimizou os riscos inflacionários associados às tarifas do atual presidente dos Estados Unidos. Em entrevista à CNBC, afirmou: “estamos em pausa há seis meses pensando que haveria um grande choque tarifário na inflação. Não vimos isso”. E completou: “devemos basear a política... nos dados”.

A declaração de Waller contrasta com a decisão unânime do Fed, tomada dois dias antes, de manter os juros inalterados pela quarta reunião consecutiva, após cortes acumulados de um ponto percentual em 2024. Ao mesmo tempo, escancara a crescente divisão interna sobre a possibilidade de novos cortes ainda este ano.

Trump pressiona e ataca Powell - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem cobrado publicamente o Fed por reduções mais agressivas nas taxas. Na sexta-feira à noite, voltou a criticar duramente o presidente do banco central, Jerome Powell, pedindo cortes de até 3,5 pontos percentuais e chamando-o de “cara burro e obviamente um ‘hater’ de Trump”.

Trump foi além em sua rede social Truth Social: “não sei por que o Conselho não substitui esse completo idiota. Talvez, apenas talvez, eu tenha que mudar de ideia sobre demiti-lo? Mas, independentemente disso, seu mandato termina em breve!”. Em outra publicação, chegou a cogitar a si mesmo como possível nome para chefiar o Fed.

Divergências internas ganham força - Projeções divulgadas pelo Fed na última quarta-feira mostram um comitê cada vez mais dividido. Dez membros estimam dois ou mais cortes de 0,25 ponto percentual em 2025, enquanto sete acreditam que não haverá cortes e outros dois preveem apenas um.

“Uma coisa notável é que o número de dirigentes do Fed que acham que não deve haver cortes cresceu. Claramente há uma diferença de opinião entre o comitê”, afirmou Rick Rieder, diretor de investimentos para renda fixa global da BlackRock, que administra cerca de US$ 2,4 trilhões em ativos.

Segundo Powell, ainda que haja “diversidade bastante saudável de opiniões no comitê”, a decisão de manter os juros foi amplamente apoiada. Ele reconheceu, no entanto, que “com a incerteza tão elevada como está, ninguém mantém essas trajetórias de taxas com muita convicção”.

Dados contraditórios aumentam pressão - A taxa básica de juros dos EUA está atualmente entre 4,25% e 4,5%, patamar considerado acima do nível neutro da economia — isto é, que nem acelera nem desacelera o crescimento. Os dados mais recentes do índice de preços ao consumidor (CPI) indicam inflação de 2,4% em maio, abaixo das expectativas, o que reforça os argumentos em favor de cortes.

Mary Daly, presidente do Federal Reserve de São Francisco, também demonstrou menos preocupação com os efeitos das tarifas na inflação. À CNBC, afirmou: “não acho que as preocupações [sobre inflação] sejam tão grandes quanto eram quando as tarifas foram anunciadas pela primeira vez”. Embora não espere uma redução em julho, ela admitiu a possibilidade de cortes no outono. “Mas não podemos esperar tanto tempo que nos esqueçamos de que os fundamentos da economia estão se movendo na direção em que um ajuste na taxa de juros pode ser necessário”, alertou.

O mercado de trabalho, outro fator observado de perto pelo Fed, também apresenta sinais ambíguos. Enquanto alguns dirigentes consideram que ele continua robusto, outros detectam fragilidade em setores específicos.

Cautela e expectativa para os próximos dados - Powell deixou claro que o foco do banco central é preservar a credibilidade em relação ao controle da inflação: “a obrigação do banco central é manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas”. A inflação ainda está acima da meta de 2% definida pela autoridade monetária.

“Por enquanto, estamos bem posicionados para esperar e aprender mais sobre o provável curso da economia antes de considerar quaisquer ajustes em nossa postura política”, disse Powell.

O mercado financeiro, por sua vez, segue apostando em dois cortes de 0,25 ponto percentual até o fim do ano, com início provável em outubro, segundo dados da Bloomberg.

Para Steven Blitz, economista-chefe dos EUA na TS Lombard, a fala de Waller aponta para um movimento já em curso no Fed: “acho que Waller estava refletindo honestamente sobre como o Fed está muito mais próximo de cortar do que estão deixando transparecer, eles apenas precisam de algum tipo de confirmação mais definitiva da economia de que precisam agir”.

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