HOME > Economia

Campos Neto assume cargo no Nubank logo após quarentena e volta a criticar políticas do governo Lula

Ex-presidente do BC, que colocou os juros entre os mais elevados do mundo, afirma que a polarização prejudica o debate

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
Paulo Emilio avatar
Conteúdo postado por:

247 - Na primeira entrevista após concluir o período de quarentena, o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto alertou que as discussões sobre as contas públicas no Brasil estão sendo capturadas por uma lógica de antagonismo político entre ricos e pobres. A declaração foi feita ao jornal Folha de S.Paulo, às vésperas de sua estreia no setor privado, como vice-chairman e chefe global de políticas públicas do Nubank, cargo assumido em 1º de julho.

Alinhado ao mercado financeiro e ao discurso propagado pelas elites, Campos Neto defendeu que “em vez de sempre adotar um discurso de que as empresas têm que pagar mais, precisamos ter uma base tributária que seja boa o suficiente para estimular o investimento privado, porque público a gente não tem. Às vezes, vejo um empresário que faz uma crítica ao Bolsa Família, aí ele apanha…”.

“Vários empresários falam a mesma coisa, que tem vários estados no Brasil que têm mais gente que ganha Bolsa Família do que trabalhador de carteira assinada. Ninguém está estimulando que não tenha o programa. A grande pergunta [é]: será que o Bolsa Família está gerando informalidade? Existem evidências. O discurso de "nós contra eles" é ruim para todo mundo. Não é o que vai fazer o país crescer de forma estrutural. Precisamos unir todo mundo, o empresário, o empregado, o governo.”, ressaltou mais à frente. 

Nesta linha, Campos Neto destacou que “saiu um estudo recente dizendo que o Brasil é o maior país na América Latina que teve mais milionários que foram morar em outro país. Tem empresa fazendo listagem em Bolsa fora. Empresas que estão fechando o capital no Brasil, abrindo o capital fora. Em vez de reclamar que o empresário foi morar fora, temos que dizer: "Vem cá, como faço para manter você aqui dentro?". Precisamos reverter isso e passar uma mensagem para as pessoas de que o empresário é importante.

Ele também criticou declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que o acusou de ter deixado uma herança de juros altos para seu sucessor no BC, Gabriel Galípolo. “É triste quando a narrativa é mais importante do que a busca de uma solução estrutural.” Campos Neto evitou confrontos pessoais, mas rechaçou a ideia de que a última alta de juros foi um legado de sua gestão. Segundo ele, essa narrativa é infundada e desvia a atenção de problemas reais. “Empobrece o debate”, disse. Ele elogiou o trabalho de Galípolo e destacou que o problema atual não é monetário, mas sim fiscal: “Inseriu-se um elemento político dentro do debate fiscal, que está muito forte hoje.”

Para ele, qualquer decisão hoje no campo fiscal é contaminada pela polarização. “A esquerda teve várias ideias boas em programas no passado. A direita também. Agora, há uma falta de credibilidade na ancoragem fiscal”, afirmou. “Precisamos de um plano ambicioso. Nossa dívida cresce entre 3 e 5 pontos percentuais ao ano. Isso é muito grave.” Sobre as atuais estratégias do governo, Campos Neto afirmou que “não é equalização, é aumento de carga.” 

Na entrevista, ele demonstrou apoio à redução de isenções e à cobrança de imposto sobre dividendos, desde que acompanhadas da redução no IRPJ [Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica]. “Eliminar vantagem tributária em investimentos de longo prazo não é positivo, porque o funding de longo prazo é essencial para projetos estruturantes”, disse. 

Ao comentar a discussão sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o ex-presidente do BC disse que este “é um imposto muito ruim. Impacta toda a cadeia, encarece o crédito, distorce o processo produtivo”. Ele também disse não ver sentido na manutenção de isenções em alguns títulos e defendeu isonomia tributária.

Questionado sobre rumores de que poderia integrar uma eventual equipe econômica de Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo e possível  candidato da direita nas eleições de 2026}, Campos Neto negou que isso vá acontecer“. Acabei de entrar no Nubank. Vou para o mundo privado. A resposta já está dada.” 

Ele também comentou a percepção de que a América Latina caminha para a direita e criticou o que vê como uma obsessão da esquerda com a igualdade. “As ideologias de esquerda têm uma obsessão com igualdade e não com a diminuição da pobreza”, disse. Na visão dele, o aumento do tamanho do Estado corrói o setor privado, gera dívida, inibe investimentos e leva a juros estruturalmente altos e baixa produtividade. “O jogo acaba quando a injeção pública de recursos faz mais mal do que bem.”

Ao ser perguntado sobre a proposta de Haddad de aumentar a tributação dos bancos digitais — como o Nubank —, afirmou que medidas como IOF e impostos sobre bancos acabam encarecendo o crédito. “Não se pode dizer que o encarecimento do crédito é para o andar de cima.”

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Relacionados

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...