Planalto prevê reação "inevitável" de Trump após julgamento de Bolsonaro por trama golpista no STF
Governo brasileiro se prepara para novas medidas do presidente dos EUA ligadas à condenação de Bolsonaro e aponta possíveis alvos de retaliação
247 - O Palácio do Planalto já considera "inevitável" a reação dos Estados Unidos ao avanço do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). O julgamento, que envolve Jair Bolsonaro (PL) e outros réus, gera a expectativa de uma possível condenação, o que poderia acirrar as tensões entre Brasil e EUA. Assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacam que a administração de Donald Trump condicionou o aumento de tarifas ao andamento do processo, tornando a reação de Washington uma resposta previsível.
De acordo com a coluna da jornalista Renata Agostini, de O Globo, auxiliares de Lula avaliam que a medida de retaliação dos EUA poderia vir na forma de novos embargos, embora haja incertezas quanto à utilização do "tarifaço" mais uma vez. Além disso, já estão em vigor tarifas elevadas sobre produtos brasileiros, e a investigação contra práticas comerciais desleais por parte do Brasil continua em andamento. Em conversa com a reportagem, fontes do governo federal indicaram que a retaliação de Trump poderia, dessa vez, focar no STF. Entre as opções avaliadas, está a aplicação da Lei Magnitsky contra os ministros da Primeira Turma que votarem pela condenação de Bolsonaro.
A Lei Magnitsky foi utilizada anteriormente contra o ministro Alexandre de Moraes, que é o relator do caso no STF. Outros quatro membros da turma, como Cármen Lúcia, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Luiz Fux, estariam na mira da lei, caso se pronunciem pela culpabilidade de Bolsonaro. Contudo, Fux tem demonstrado sinais de que pode se distanciar da linha dos demais ministros, o que gera incertezas sobre o rumo da retaliação. Fux foi um dos poucos ministros a não sofrer restrições pelos EUA, que também isentaram Kássio Nunes Marques e André Mendonça da punição com o cancelamento de vistos.
Os assessores presidenciais destacam que a estratégia de Trump é dar uma resposta política ao desfecho do julgamento, sem prejudicar de forma significativa a economia americana. Essa tática ficou mais evidente com a ordem executiva que oficializou o aumento de tarifas, que, ao mesmo tempo, deixou de fora grande parte da pauta exportadora do Brasil.
Para os integrantes do Planalto, as próximas ações dos EUA já estão definidas, dada a forma como a Casa Branca estruturou o embate. Ao condicionar o fim das sanções à mudança de postura do STF, Trump deu um recado claro: não haverá conciliação, e qualquer ceder do Brasil seria uma concessão à ameaça, o que comprometeria a soberania do país e a independência do Judiciário.
O governo brasileiro agora aguarda a proclamação do resultado do julgamento da trama golpista, o que deve ocorrer no final da próxima semana. Esse desfecho, segundo o Planalto, deverá marcar o início de uma nova rodada de ofensivas por parte de Trump.