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Javier Milei busca socorro nos Estados Unidos enquanto seu governo afunda

Presidente argentino aposta em encontro com Donald Trump em meio a derrotas eleitorais, perda de aliados e aumento do descontentamento social

O presidente argentino Javier Milei, em Buenos Aires - 27/01/2025 (Foto: REUTERS/Agustin Marcarian)

247 – O presidente da Argentina, Javier Milei, encerrou uma das semanas mais difíceis de sua gestão com um ato político em Córdoba e o anúncio de uma reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A informação foi divulgada pelo portal argentino C5N, que destacou o esforço do governo em buscar legitimidade internacional diante do agravamento da crise interna.

O evento em Córdoba foi marcado pela tentativa de resgatar o entusiasmo inicial de sua base, quando Milei surgia como uma força disruptiva no cenário político. No entanto, dezenove meses após sua posse, o panorama mudou: a “batalha cultural” foi abandonada, antigos aliados se distanciaram e os setores sociais mais afetados pela agenda ultraliberal do governo intensificaram a resistência.

Derrotas eleitorais e desgaste da imagem presidencial

O fracasso do oficialismo nas eleições provinciais aprofundou a crise. O quarto lugar em Corrientes e a derrota esmagadora em Buenos Aires revelaram uma quebra significativa na representação do governo. Apesar de Milei ter reconhecido publicamente que “há coisas a corrigir”, manteve intacto o rumo econômico e político de sua gestão.

Analistas apontam para a influência central de Karina Milei, irmã do presidente e chefe de campanha, considerada a principal responsável pelas derrotas eleitorais. Mesmo diante das críticas, ela e seus colaboradores seguem ocupando postos estratégicos, sem mudanças estruturais na condução política.

Crise econômica e ruptura com governadores

A situação econômica e financeira é descrita como explosiva. A falta de reservas internacionais, somada à política de ajuste indiscriminado e ao encolhimento da atividade econômica, compromete o emprego e o sustento das famílias. Além disso, a relação com governadores que inicialmente apoiavam o governo entrou em colapso, já que muitas promessas não foram cumpridas.

No Congresso, a perda de aliados se reflete no bloqueio a projetos oficiais e no fortalecimento da oposição. Nas ruas, multiplicam-se protestos contra as medidas de austeridade, evidenciando que a máxima defendida pelo governo — de que seria possível realizar “o maior ajuste da história sem consequências sociais” — não se sustenta.

A batalha cultural perdida

O desgaste político vai além da economia. Segundo a análise publicada pelo C5N, o governo libertário perdeu a “batalha cultural”, uma vez que a maioria da população percebe que o individualismo e a crueldade promovidos como compensação simbólica pelos fracassos neoliberais não oferecem soluções concretas, apenas ampliam a dor social.

O paralelo com experiências anteriores da política argentina — como as crises de 1989 e 1999 — é inevitável. A dúvida que permanece é se Milei representa a continuidade do ciclo de aprofundamento neoliberal ou se será lembrado como o “último recurso” de um sistema em colapso.

Tentativa de reposicionamento internacional

Com o isolamento político interno em expansão, Milei busca agora respaldo no exterior. O encontro anunciado com Donald Trump tem claro objetivo simbólico: apresentar-se como aliado estratégico do atual presidente norte-americano em um momento de fragilidade interna.

Ainda que esse gesto possa fortalecer sua imagem entre setores específicos, a crise argentina não será resolvida por apoios externos. A realidade econômica e social pressiona cada vez mais e coloca em xeque a própria sobrevivência do governo.

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