Congresso argentino mantém veto de Milei a aumento das aposentadorias
Câmara falha por pouco em derrubar veto presidencial e mantém superávit como prioridade fiscal; mercado reage a derrota parcial do governo em outra votação
247 - O presidente argentino Javier Milei evitou, por margem estreita, uma derrota de grandes proporções na Câmara dos Deputados, que votou 160 a 83 pela rejeição ao veto presidencial ao projeto que aumentava as aposentadorias — número insuficiente para alcançar os dois terços necessários.
A informação é da Bloomberg, que acompanhou a sessão de quarta-feira (20) e destacou que, mesmo com a maioria simples, não houve votos para derrubar o veto, o que ainda exigiria análise do Senado
Segundo a Bloomberg, o texto vetado previa reajuste dos benefícios e era apontado pelo governo como risco ao superávit primário, prioridade do programa econômico do mandatário. O resultado dá fôlego à estratégia fiscal, embora a votação apertada exponha o ambiente político tenso às vésperas das eleições legislativas de meio de mandato em outubro
Para investidores, a manutenção do veto evita uma pressão imediata sobre as contas públicas. A XP Investimentos avaliou que o governo ganhou tempo: “Esta vitória dá ao governo algum espaço para respirar após reveses recentes e fortalece sua posição em relação aos compromissos de consolidação fiscal”, disse, em relatório a clientes, a analista Sol Azcune. Em cálculo apresentado pelo Executivo, os projetos aprovados pelo Congresso nos últimos meses somariam cerca de 2,5% do PIB, montante considerado incompatível com a meta de superávit após cortes de gastos na primeira metade do mandato
O alívio, contudo, veio no fim de um dia difícil. Mais cedo, a Câmara derrubou o veto de Milei a outra proposta — a que amplia a assistência financeira a pessoas com deficiência —, movimento que pressionou os títulos soberanos argentinos no pregão de quarta-feira. Além disso, novos dados oficiais mostraram contração da atividade em junho, a quarta queda mensal do ano, enquanto o governo se mantém em confronto com grandes bancos diante de regras mais duras adotadas para conter a desvalorização do peso em julho
Politicamente, o episódio é um ensaio geral para outubro. Hoje com menos de 15% das cadeiras no Congresso, o partido do presidente mira mais de 40% do voto nas eleições de meio de mandato para sustentar a agenda de reformas. O embate sobre aposentadorias e benefícios sociais deve pautar a disputa: o governo insiste que sem superávit “não há estabilização possível”, enquanto a oposição tenta capitalizar a erosão de renda após o ajuste