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      Recessão de Milei: multinacionais abandonam a Argentina e alimentam êxodo empresarial

      Marcas como Mercedes-Benz, Carrefour, Clorox e Telefónica anunciam saída do país; analistas alertam para desconfiança crescente

      Presidente da Argentina, Javier Milei - 13/05/2025 (Foto: Agustin Marcarian/Reuters/Arquivo)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O mercado argentino vive um momento de apreensão diante da decisão de diversas multinacionais de deixarem o país ou transferirem suas operações. A reportagem da Sputnik Brasil revela que empresas como Mercedes-Benz, Carrefour, Clorox e Telefónica anunciaram sua saída da Argentina, o que levanta preocupações sobre um possível "êxodo" empresarial em meio ao cenário de instabilidade política e econômica sob o governo de Javier Milei.

      Ainda que em muitos casos as marcas estejam sendo transferidas para outros grupos locais ou regionais, a percepção de que empresas estrangeiras estão abandonando o mercado argentino acendeu o sinal de alerta entre analistas e investidores. Até mesmo o megacampo de gás e petróleo de Vaca Muerta, considerado a maior aposta energética do país, tem sido afetado por esse movimento: TotalEnergies, ExxonMobil, Enap Sipetrol e Petronas estão entre as companhias que optaram por sair do setor nos últimos meses.

      Diagnóstico de longo prazo: saída não começou com Milei

      Para o economista Julio Gambina, entrevistado pela Sputnik Brasil, o processo de retirada de empresas transnacionais do país não se iniciou com a atual gestão. “É verdade que há um fenômeno de retirada de empresas transnacionais da Argentina", afirmou. “Mas se trata de um processo que não começou com o governo de Javier Milei, e sim durante as administrações de Alberto Fernández (2019–2023) e Mauricio Macri (2015–2019).”

      Segundo Gambina, a Argentina é um país historicamente dominado por capital estrangeiro. “Dois terços das 500 maiores empresas do país são estrangeiras, segundo o próprio Indec [Instituto Nacional de Estatísticas e Censos]", destacou.

      Florencia Fiorentin: previsibilidade sem base sólida

      A economista-chefe da Epyca Consultores, Florencia Fiorentin, também entrevistada pela Sputnik, ponderou que a saída de empresas faz parte de um ciclo comum de entrada e saída em economias abertas. No entanto, reconheceu que há fatores que tornam o cenário argentino menos atrativo atualmente, como o tipo de câmbio e o baixo nível de consumo.

      “O dólar barato para os argentinos torna os salários relativamente mais caros para empresas voltadas à exportação”, explicou. Além disso, Fiorentin citou como fatores de desestímulo a queda da atividade econômica, as mudanças frequentes nas regras do jogo, a baixa taxa de investimento e a imprevisibilidade de políticas de ciência e tecnologia.

      Apesar disso, ela reconhece algum mérito na política econômica atual: “O modelo de Milei parece ter um rumo claro que dá certa previsibilidade às empresas”, afirmou. “Mas isso não é suficiente para criar um terreno fértil ao desenvolvimento e atração de novos investimentos.”

      Milei, o capital externo e a crise política permanente

      A crítica mais dura recai sobre o impacto político da atual gestão. Para Gambina, “o governo de Milei não está conseguindo dissipar a incerteza política que persiste na Argentina, mesmo contando com um consenso eleitoral significativo”. Ele ressalta que, embora a agenda ultraliberal busque agradar o capital estrangeiro, com incentivos fiscais e flexibilização cambial, os resultados ainda são tímidos: “Os sinais pró-mercado do governo de Milei ainda não geram confiança suficiente para investir na Argentina.”

      Um dos principais fracassos apontados por Gambina foi a flexibilização do chamado “cepo cambial”. A medida visava atrair capital externo, mas teve o efeito contrário: aumentou a fuga de capitais e a retenção de divisas.

      “O problema é que há uma crise política na Argentina e, em função disso, muitos executivos de multinacionais estão se perguntando se [o país] vai reverter ou não essa situação”, concluiu o economista. Ele também lembrou que o Risco-País argentino permanece acima dos 700 pontos — um patamar muito superior ao dos países vizinhos e um claro indicativo da desconfiança dos mercados internacionais.

      Enquanto o governo argentino tenta emplacar sua narrativa de abertura econômica e reformas estruturais, os dados e os anúncios recentes indicam que a travessia para um ambiente mais estável e confiável ainda está longe do fim. O recado das multinacionais que deixam o país é claro: sem estabilidade política e segurança jurídica, nem mesmo as promessas mais ortodoxas do liberalismo conseguem segurar os investimentos.

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