Governo vê sabotagem e admite que tributação de investimentos pode cair
Base aliada avalia que Centrão e Tarcísio atuam nos bastidores para derrubar medida fiscal e fragilizar Lula
247 - A tensão tomou conta de Brasília entre a noite de terça-feira (7) e a manhã desta quarta (8), diante das dificuldades do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para aprovar a medida provisória que eleva impostos. A proposta é considerada essencial para reforçar o caixa em 2026, com previsão de arrecadar R$ 35 bilhões e afastar o risco de desajuste fiscal.
Segundo Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, ministros e líderes da base governista calculam que ainda faltam cerca de 50 votos para atingir os 257 necessários na Câmara dos Deputados. Mesmo que consiga superar a primeira etapa, o texto ainda precisa ser aprovado no Senado. O prazo de validade da MP se encerra nesta quarta-feira, o que pode levar à sua caducidade caso não avance.
Reconhecimento das dificuldades
O líder do PT, Lindbergh Farias, admitiu os obstáculos enfrentados: "Tem uma turma querendo derrubar a MP. Estão cavando um buraco no Orçamento". Um ministro do governo, sob reserva, disse acreditar pela primeira vez na possibilidade real de derrota.
Para o Planalto, o cenário é agravado pelo calendário político. A proximidade das eleições de 2026 estaria influenciando líderes do Centrão e também o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), acusado de articular contra a aprovação.
Defesa de Tarcísio
O governador paulista nega qualquer movimento nesse sentido. "Estou muito focado nos problemas aqui de SP. Temos várias coisas acontecendo. Essa questão é do Congresso", afirmou. Em outra mensagem, acrescentou: "Não costumo fazer isso", ao ser questionado sobre eventuais ligações a parlamentares pedindo voto contrário.
Acusações de sabotagem
Integrantes do governo classificaram as movimentações da oposição como uma forma de “sabotagem”. Para eles, o objetivo seria inviabilizar o arcabouço fiscal, fragilizar Lula em ano eleitoral e forçá-lo a cortar recursos de programas sociais. Esse seria, segundo avaliação interna, o último momento para interromper a sequência de notícias positivas que tem favorecido o governo em pesquisas recentes.
Pressão da bancada ruralista
A resistência mais expressiva vem da bancada ruralista, formada por cerca de 300 deputados, que já declarou voto contrário à medida, apesar de ter conseguido emplacar algumas demandas no texto.
Na terça-feira (7), a comissão mista responsável pela análise da MP aprovou uma versão desidratada, que retirou do alcance da tributação setores como as casas de apostas e manteve benefícios fiscais para rendimentos do agronegócio e de títulos imobiliários. O placar, entretanto, mostrou o tamanho da divisão: a vitória foi garantida por apenas um voto, com 13 a 12.
O relator da proposta, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), reconheceu após a sessão que as concessões não foram suficientes para dar maior segurança ao governo no plenário. “As negociações foram intensas, mas o resultado mostra que teremos uma votação muito apertada”, afirmou.
Estratégias do governo
Diante da possibilidade de derrota, auxiliares de Lula admitem que já estão sendo discutidas alternativas para reduzir o impacto político e fiscal caso a MP não seja aprovada. O desfecho desta quarta-feira, portanto, será decisivo tanto para a estratégia econômica do governo quanto para o tabuleiro eleitoral que se desenha para 2026.