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BRICS é a nova expressão do multilateralismo, afirma Celso Amorim

Assessor especial do presidente Lula defende que bloco representa alternativa inclusiva e eficaz à ordem global liderada pelo G7

Celso Amorim (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

247 – Em artigo publicado na Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (31), o diplomata Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, argumenta que o Brics tornou-se o novo nome do multilateralismo no século XXI. Aos 83 anos, sendo 62 deles dedicados à diplomacia, Amorim traça uma análise histórica das transformações da ordem internacional e defende que o bloco é hoje a principal plataforma para a construção de um sistema global mais justo e representativo.

“Hoje, sua missão é canalizar esse impulso para construir um mundo que seja justo e sustentável, onde o multilateralismo prevaleça. Não precisamos de nada menos que isso”, escreve Amorim ao final do artigo, reforçando o caráter reformista do Brics diante de uma ordem global cada vez mais instável e assimétrica.

De crises históricas ao colapso do multilateralismo tradicional

Amorim relembra que ingressou na carreira diplomática durante a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, e acompanhou guerras como a do Vietnã e a dos Seis Dias. Apesar da tensão, havia, segundo ele, a confiança de que a racionalidade entre potências prevaleceria. Hoje, porém, o cenário é mais sombrio: “As guerras modernas já não são movidas apenas por ideologia ou rivalidade econômica. Elas são inflamadas por fervor religioso e disputas territoriais, ecoando as tensões que precederam a Primeira Guerra Mundial”.

Para o ex-chanceler, a desagregação da ordem multilateral ficou evidente com a criação do G7, em 1975. “Embora a Carta da ONU tenha estabelecido o Conselho Econômico e Social para tratar de questões econômicas globais, as maiores economias do mundo nunca lhe deram a devida atenção”, afirma. O G7 e, depois, o G8 funcionaram como clubes exclusivos que tomavam decisões de forma oligárquica, mesmo quando incluíam países em desenvolvimento de maneira periférica.

O surgimento do Brics como alternativa sistêmica

A partir da crise financeira de 2008, novos paradigmas foram colocados em xeque. O G20 surgiu como um reconhecimento de que os problemas globais exigiam mais vozes. Nesse mesmo contexto, o Brics — que inicialmente era apenas um acrônimo criado por um economista do mercado financeiro — ganhou densidade política.

“O Brics foi gradualmente se transformando em um fórum político”, afirma Amorim. Ele recorda que, após um encontro com o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), em Brasília, em 2011, a África do Sul passou a integrar o bloco formalmente. A partir daí, o Brics consolidou-se com uma agenda propositiva.

A expansão do bloco em 2023, com a adesão de novos membros, deu ao grupo um equilíbrio que Amorim considera raro: “Hoje, o Brics alcança um equilíbrio justo entre representatividade e eficiência”.

Uma agenda prática voltada ao desenvolvimento

Diferentemente de outras coalizões de países em desenvolvimento, o Brics tem uma atuação marcada por resultados concretos. Um dos exemplos mais citados por Amorim é o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado em 2014, que oferece financiamento público com foco em infraestrutura e sustentabilidade.

Na 17ª Cúpula do Brics, realizada este ano no Rio de Janeiro, o bloco avançou em temas como comércio em moedas locais, investimentos, inteligência artificial, meio ambiente e saúde. Para Amorim, essa é a demonstração de que o Brics não pretende apenas contestar a ordem vigente, mas construir alternativas viáveis.

“O Brics não foi concebido como um rival do G7. No entanto, cada vez mais oferece algo que a antiga ordem não consegue: inclusão em vez de exclusão, reforma em vez de estagnação”, conclui o diplomata.

O artigo reforça a visão do governo brasileiro de que o Brics é um instrumento estratégico para reposicionar o país no cenário global e construir uma governança internacional mais democrática — tema central da política externa do presidente Lula em seu terceiro mandato.

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