Trump chega ao Reino Unido em meio à crise política que ameaça liderança de Keir Starmer
Visita de Trump acontece em momento delicado para o premiê, pressionado por escândalos e divisões internas
247 - O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, enfrenta um dos momentos mais turbulentos de seu governo desde que chegou ao poder em julho de 2024, prometendo uma política “mais silenciosa” após anos de caos sob os conservadores. Segundo reportagem da Bloomberg, a renúncia de duas figuras-chave em menos de uma semana expôs fragilidades e lançou dúvidas sobre sua capacidade de manter a estabilidade.
É nesse contexto que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desembarca em Londres na terça-feira (16) para sua segunda visita de Estado. O encontro, visto inicialmente como um triunfo diplomático, agora se transforma em um potencial pesadelo político para Downing Street, já que as perguntas sobre o escândalo envolvendo o ex-embaixador britânico em Washington, Peter Mandelson, e sua ligação com Jeffrey Epstein prometem dominar a pauta.
Escândalos em série e pressão interna sobre Starmer
A queda de Mandelson, após revelações de que sua relação com Epstein era mais extensa do que se sabia, ocorreu apenas dias depois da saída de Angela Rayner, ex-vice-primeira-ministra, implicada em um caso de sonegação fiscal. As duas baixas em sequência colocaram em xeque o julgamento político de Starmer e abriram espaço para especulações sobre uma possível disputa de liderança no Partido Trabalhista.
O momento é crítico: ainda em setembro, o líder trabalhista enfrentará sua primeira conferência anual do partido, ocasião em que rivais internos devem testar sua autoridade. Em novembro, a chanceler do Tesouro, Rachel Reeves, apresentará um orçamento aguardado com apreensão pelos mercados, prevendo aumento de impostos para conter a instabilidade fiscal.
Um governo em "modo sobrevivência"
Nos bastidores, parlamentares trabalhistas relatam descrença e comparações entre o atual governo e os últimos dias da gestão conservadora — mas após apenas 14 meses de poder. Um deles chegou a afirmar que a “Operação Salvar Keir” já estaria em andamento dentro do Número 10 de Downing Street.
Pesquisas recentes reforçam esse clima de incerteza. “Quando se trata de governar com competência, as avaliações do Partido Trabalhista são semelhantes às do antigo governo conservador”, afirmou Keiran Pedley, do instituto Ipsos. Segundo ele, demissões e reorganizações internas podem alimentar a percepção pública de deriva ou até de crise.
O fantasma de Epstein e a sombra de Tony Blair
A demissão de Mandelson, figura ligada ao ex-premiê Tony Blair, foi particularmente explosiva. Inicialmente defendido por Starmer, o ex-embaixador caiu após a divulgação de mais de 100 e-mails inéditos trocados com Epstein. Aliados próximos alertam que o afastamento pode reacender a influência de setores ligados ao blairismo, que veriam no secretário de Saúde, Wes Streeting, um possível sucessor para o cargo de líder.
Embora não haja um desafio imediato à sua liderança, a sobrevivência política de Starmer dependerá da capacidade de restaurar confiança dentro do partido e de apresentar resultados concretos à população britânica até as eleições locais previstas para maio de 2026.
Uma visita com alto risco político
Apesar das dificuldades, a visita de Estado de Donald Trump continua a ser tratada como um momento estratégico. O roteiro inclui cerimônias ao lado do rei Charles III e o anúncio de uma parceria tecnológica entre Reino Unido e Estados Unidos, articulada por figuras de peso do setor, como Jensen Huang (Nvidia) e Sam Altman (OpenAI). Londres também espera avanços nas negociações sobre tarifas de aço e uísque.
Ainda assim, encontros com Trump são considerados imprevisíveis. Em viagens anteriores, o presidente norte-americano já surpreendeu com declarações sobre migração, liberdade de expressão e até mesmo ao deixar documentos cair em plena coletiva, episódio que rendeu constrangimentos a Starmer.
O ponto mais sensível, contudo, segue sendo o caso Epstein. Assessores temem que coletivas de imprensa dominadas por esse tema possam azedar o clima da visita e aumentar a pressão sobre o governo britânico. Para Starmer, cada dia parece um desafio de sobrevivência política, e a presença de Trump no país dificilmente trará a calmaria que ele prometera entregar à população há pouco mais de um ano.