Starmer demite embaixador em Washington após revelações sobre Epstein
Primeiro-ministro britânico remove Mandelson após divulgação de e-mails inéditos com Jeffrey Epstein
247 - O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou nesta quinta-feira (11) a demissão de Peter Mandelson do cargo de embaixador britânico em Washington. A decisão ocorreu horas depois de a Bloomberg revelar mais de 100 e-mails inéditos entre Mandelson e o financista Jeffrey Epstein, que morreu em 2019 e havia sido condenado por crimes sexuais contra menores.
Segundo a reportagem da Bloomberg, os documentos expuseram a proximidade entre Mandelson e Epstein, incluindo uma mensagem enviada em junho de 2008, na véspera da prisão do financista na Flórida. Nela, Mandelson escreveu: “I think the world of you” (“Eu acho o mundo de você”) e ofereceu ajuda política para tratar do caso com seus contatos. O gesto foi interpretado pelo governo como um sinal de apoio a Epstein em um momento crítico.
Pressão política e reação oficial
O Ministério das Relações Exteriores britânico informou que o afastamento ocorreu após a constatação de que Mandelson teria sugerido que a primeira condenação de Epstein era injusta e deveria ser contestada. “À luz disso, e em respeito às vítimas dos crimes de Epstein, ele foi retirado do posto de embaixador com efeito imediato”, disse o órgão em comunicado.
Na Câmara dos Comuns, o ministro Stephen Doughty confirmou que a medida foi determinada pessoalmente por Starmer. O porta-voz oficial do premiê, Tom Wells, reforçou que o conteúdo dos e-mails foi considerado “repreensível”.
Conexões comprometedoras
A situação de Mandelson vinha se deteriorando desde o início da semana, quando veio a público que ele teria descrito Epstein como seu “melhor amigo” em um chamado “livro de aniversário” — documento obtido por parlamentares democratas nos Estados Unidos como parte das investigações sobre as conexões do financista.
Esse mesmo material também trouxe à tona uma polêmica envolvendo o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Entre os registros, há um recado de tom sexualmente sugestivo atribuído a Trump, escrito sobre o contorno de um corpo feminino. A Casa Branca negou a autenticidade da mensagem, afirmando que a imagem foi falsificada.
Crise diplomática às vésperas da visita de Trump
A crise estoura a apenas uma semana da visita de Estado de Donald Trump ao Reino Unido, marcada para os dias 17 a 19 de setembro. O encontro, articulado por Starmer e pelo próprio Mandelson, incluiria um banquete de gala oferecido pelo rei Charles III.
A saída do embaixador coloca o governo britânico em uma posição delicada, como destacou o deputado conservador Neil O’Brien: “Vocês colocaram nosso embaixador no centro do maior escândalo político de Washington”.
Enquanto um substituto permanente não é nomeado, James Roscoe, encarregado de negócios em Washington, assumirá interinamente. Entre os possíveis sucessores, está a ex-embaixadora Karen Pierce, diplomata de carreira que manteve boas relações com o governo Trump em seu primeiro mandato.
Divergências internas no Partido Trabalhista
A decisão de Starmer também respondeu à crescente pressão de parlamentares trabalhistas. O deputado Andy McDonald foi categórico ao afirmar: “Ter simpatia por Jeffrey Epstein mostra uma perda colossal de julgamento, e Peter Mandelson precisa renunciar ou ser demitido”. Já Bell Ribeiro-Addy pediu a abertura de uma investigação ética sobre os laços de Mandelson com o financista.
Em entrevista ao jornal The Sun, Mandelson admitiu arrependimento: “Lamento muito, profundamente mesmo, ter mantido essa associação por muito mais tempo do que deveria e lamento que tenha acreditado nas mentiras dele”.
A demissão, contudo, abre um novo capítulo de tensão diplomática entre Londres e Washington, com potencial de repercussão direta na visita de Trump, que chega em um momento crucial para as relações bilaterais.