Trump aproximou ainda mais os BRICS com seu tarifaço, diz Pepe Escobar

247 – O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar publicou fez uma análise detalhada sobre o impacto da política de tarifas de Donald Trump e os efeitos do encontro histórico entre o presidente dos Estados Unidos e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizado no Alasca.

Segundo Escobar, as tarifas impostas por Trump contra a China e outros países acabaram gerando um efeito inesperado: “Trump aproximou ainda mais os BRICS com seu tarifaço”. O analista destacou que nunca antes os principais líderes do bloco — Rússia, China, Brasil, Índia e África do Sul — mantiveram tantos contatos diretos e frequentes, reforçando a integração econômica e política como resposta à pressão norte-americana.

O encontro no Alasca

O ponto alto da análise de Escobar foi a reunião entre Trump e Putin, descrita como surpreendentemente cordial. Logo na chegada, relatou o analista, Putin teria afirmado: “Estou aqui para te ajudar”, ao que Trump respondeu: “Eu vou te ajudar”.

Para Escobar, esse clima desmontou as previsões pessimistas feitas antes do encontro e abriu caminho para discussões de paz na Ucrânia. Trump chegou a publicar em sua rede social: “Foi determinado por ambas as delegações que a melhor forma de encerrar a horrível guerra entre Rússia e Ucrânia é buscar diretamente um acordo de paz que encerre a guerra, e não apenas um cessar-fogo, que muitas vezes não se sustenta.”

Escobar destacou que, nessa frase, Trump desafiou frontalmente a narrativa da OTAN e de seus aliados em Kiev. O ex-presidente russo Dmitri Medvedev confirmou: “O presidente da Rússia apresentou pessoalmente e em detalhes ao presidente dos Estados Unidos as nossas condições para encerrar o conflito na Ucrânia.”

BRICS no centro da estratégia

Pepe Escobar ressaltou que Putin chegou ao Alasca não apenas como líder russo, mas também como representante dos BRICS. Antes da reunião, o presidente russo manteve conversas com Xi Jinping, Lula e Narendra Modi, reforçando a ideia de que o encontro tinha implicações que ultrapassavam o conflito na Ucrânia e se projetavam sobre a arquitetura geopolítica global.

Segundo Escobar, “após o Alasca, os que realmente escrevem o roteiro do grande jogo geopolítico são Xi e Putin juntos”. Trump, por sua vez, teria prometido não impor novas sanções aos países do bloco pelo menos nas próximas semanas, gesto que foi visto como um sinal de distensão.

Energia e negócios como pano de fundo

Embora as negociações de paz tenham dominado as atenções, Escobar sublinhou que os interesses econômicos foram igualmente decisivos. No mesmo dia do encontro, Putin assinou um decreto que pode permitir o retorno da ExxonMobil à exploração de gás em Sakhalin, no extremo oriente russo. A empresa havia perdido bilhões de dólares ao deixar o projeto em 2022 por conta das sanções.

Para Escobar, essa decisão mostra que Trump busca principalmente abrir espaço para grandes companhias norte-americanas no setor de energia russo, conectando diplomacia a interesses empresariais estratégicos.

Resistências e próximos passos

Apesar da aproximação, Escobar alertou que Trump enfrentará forte resistência do establishment político e midiático dos Estados Unidos e da Europa. A imprensa ocidental já reagiu com hostilidade ao encontro, descrevendo-o como uma ameaça à estratégia da OTAN.

Ainda assim, os desdobramentos seguem em andamento. Putin convidou Trump para um segundo encontro em Moscou, e novos capítulos devem se desenrolar em breve, especialmente no Fórum Econômico de Vladivostok e na reunião da Organização de Cooperação de Xangai, que reunirá Putin, Xi Jinping e Narendra Modi.

Para Pepe Escobar, o encontro no Alasca não representou o fim imediato da guerra na Ucrânia, mas abriu uma possibilidade inédita de negociações diretas de paz e de redefinição estratégica das relações entre Estados Unidos e Rússia. Ao mesmo tempo, as tarifas impostas por Trump tiveram o efeito de fortalecer a união dos BRICS, acelerando o processo de integração econômica e política do bloco.

“Foi uma enorme surpresa; ninguém esperava esse grau de entendimento”, resumiu Escobar. Assista: