Império do Caos obriga Rússia a se tornar um Império dos Mísseis, aponta Pepe Escobar
Em vídeo, jornalista diz que fim da contenção russa é resposta à escalada dos EUA e ao colapso dos tratados de mísseis
247 - A crescente pressão militar e política dos Estados Unidos sobre a Rússia e os países do Brics levou Moscou a adotar uma mudança radical em sua doutrina estratégica.
Segundo o jornalista Pepe Escobar, em comentário veiculado em seu canal no YouTube, o chamado “Império do Caos” — expressão usada para descrever as ações desestabilizadoras da política externa dos EUA — obrigou a Rússia a se tornar aquilo que Escobar denomina o “Império dos Mísseis”.
Em sua análise, Escobar afirma que o governo russo, diante das violações de tratados internacionais pelos Estados Unidos, como o fim unilateral do Tratado INF (que limitava mísseis de curto e médio alcance), decidiu abandonar a política de contenção. “A era da polidez russa acabou”, disse o jornalista. Em seu lugar, segundo ele, entra em cena uma postura ofensiva baseada em poder de fogo incomparável.
Supremacia militar como resposta à doutrina da intimidação
A virada russa se materializa por meio da implantação acelerada de mísseis hipersônicos, como o “Orelnik” — já testado na Ucrânia e agora em produção em larga escala. Segundo Escobar, o país se prepara para colocar em operação regimentos inteiros desse armamento a partir de 2026, complementados por sistemas como os Calibre, Zircon, Sarmat e Iskander.
"Luvas de pelica, bye bye. Acabou", ironizou Escobar ao explicar que a nova doutrina militar russa não se restringe à defesa, mas busca deixar claro à OTAN e ao governo dos EUA que qualquer tentativa de agressão encontrará retaliação “imediata” e “incalculável”.
Moscou também respondeu com uma nota diplomática dura, mas contida, em 4 de agosto, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores. Nela, deixou claro que as limitações do INF não são mais respeitadas e que o país atuará com liberdade total para instalar seus mísseis onde for necessário — do Ártico ao Mar Negro, passando pela Bielorrússia.
Trump e o “blefe nuclear”
Pepe Escobar destaca ainda a postura beligerante do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que cumpre seu segundo mandato desde 2025. Segundo ele, Trump aposta em uma política externa de intimidação por meio de declarações vagas e exibição de poder militar, como a divulgação do deslocamento de dois submarinos nucleares para áreas estratégicas.
“Trump governa por posts em rede social”, criticou Escobar, referindo-se à plataforma Truth Social. “Ele tenta intimidar os russos como se estivesse numa mesa de pôquer em Las Vegas, mas os russos jogam xadrez, e os chineses jogam go”, ironizou.
De acordo com Escobar, essa postura revela não uma estratégia racional, mas um blefe de baixa eficácia diante da vigilância constante que os russos mantêm sobre os deslocamentos norte-americanos.
O “sistema da mão morta” e o risco global
Ao comentar uma recente publicação do ex-presidente russo Dmitri Medvedev, Escobar alertou que a Rússia voltou a invocar a existência do “sistema de retaliação automática”, conhecido como “mão morta” (Dead Hand). O protocolo, mantido desde a Guerra Fria, garante uma resposta nuclear mesmo no caso de destruição da cadeia de comando.
“Medvedev foi direto ao ponto: se tentarem algo contra a Rússia, nem verão o que os atingirá”, destacou Escobar. A advertência, segundo ele, deve ser levada a sério diante da paridade nuclear existente entre os dois países.
Com base em dados recentes do SIPRI, instituto sueco especializado em segurança internacional, Escobar lembrou que a Rússia possui cerca de 4.500 ogivas nucleares, contra 3.800 dos EUA. Destas, aproximadamente 1.700 estão ativas e prontas para uso imediato de ambos os lados. “Com apenas 100 mísseis nucleares lançados, a civilização ocidental deixaria de existir”, alertou.
Brics se articulam diante da ameaça
A postura agressiva de Trump também afeta o Brasil, alertou Escobar, ao lembrar que o país é um dos alvos da “guerra de Trump 2.0 contra os Brics”. Ele apontou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem evitado qualquer aproximação com a atual Casa Branca, que, segundo ele, “não quer conversar”.
“A demência do condutor do Império do Caos está levando a uma união cada vez mais rápida entre os principais Brics”, afirmou Escobar, citando a aproximação entre Rússia, China, Índia, Brasil e outros parceiros estratégicos, como Irã e Indonésia.
Ele antecipou que encontros cruciais estão previstos nas próximas semanas, incluindo a cúpula da APEC e o fórum de Vladivostok, no Extremo Oriente russo, onde deve se intensificar a articulação do Sul Global diante da imprevisibilidade da política externa norte-americana.
Um cenário global à beira do abismo
Por fim, Escobar traça um retrato sombrio da conjuntura internacional: “Nada é confiável vindo do Império do Caos. Nem promessas, nem protocolos, nem tratados”, disse. Ele atribui ao atual presidente dos EUA um perfil “fora de controle”, com sérias dificuldades de concentração e discernimento.
“O problema é que essa demência está acompanhada de armas nucleares”, afirmou. “E isso leva o planeta a uma situação absolutamente aterradora.”
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