Genocídio promovido por Israel em Gaza acelera a morte de crianças por fome absoluta
Escassez de leite terapêutico e suplementos nutricionais transforma desnutrição em arma de guerra e aumenta número de mortes infantis
247 – A fome em Gaza alcançou dimensões de genocídio, com crianças sendo empurradas para a morte diante da destruição do sistema de saúde e da escassez de alimentos básicos. Segundo reportagem da Reuters, publicada nesta sexta-feira (22), a ausência de leite fortificado e pastas nutricionais essenciais está agravando a crise humanitária e acelerando mortes por desnutrição em massa.
O Integrated Food Security Phase Classification (IPC), principal organismo global de monitoramento da fome, que atua em parceria com a ONU e diversas agências humanitárias, já havia alertado, em comunicado preliminar de julho, que a fome estava “se desenrolando” em Gaza. O relatório completo será divulgado ainda nesta semana, mas os indícios de catástrofe já são inegáveis.
Mortes em escala alarmante
De acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, confirmados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes por desnutrição cresceram de forma vertiginosa. Nos 22 meses após os ataques de 7 de outubro de 2023, foram registradas 89 mortes ligadas à fome, a maioria de crianças. Somente nos primeiros 20 dias de agosto, o número já atingiu 133, sendo 25 delas de menores de idade.
“Estamos vendo a pior catástrofe humanitária que conseguimos medir”, afirmou Jeanette Bailey, especialista em nutrição infantil do International Rescue Committee, organização com sede em Nova York. Ela alertou que haverá “muito mais crianças morrendo, muito mais mulheres grávidas e lactantes sofrendo com a desnutrição”.
Israel nega que exista desnutrição generalizada em Gaza e contesta os números divulgados, mas organizações internacionais e especialistas em nutrição destacam que as evidências são incontestáveis.
Hospitais sem recursos
Nos poucos hospitais ainda em funcionamento, médicos denunciam o colapso. O pediatra Ahmed Basal, do Hospital Rantisi, apresentou um bebê em estado de inanição e explicou que a fórmula infantil, quando disponível, custa até US$ 58 por caixa. “As mães estão malnutridas e não conseguem amamentar”, relatou.
Aisha Wahdan, mãe de um bebê de oito meses, contou que recorreu a plantas silvestres como camomila e tomilho para alimentar o filho. “Não havia leite. Usei ervas naturais e tentei de tudo porque não havia substituto”, disse.
O UNICEF revelou que seus estoques de fórmula infantil só cobrem 2.500 bebês por um mês, quando ao menos 10 mil necessitam urgentemente. Além disso, alimentos terapêuticos prontos para uso (RUTF), indispensáveis para salvar crianças já em estado crítico, só chegam a 5.800 pequenos, embora 70 mil precisem imediatamente do suplemento.
Mães e filhos condenados pela fome
A situação das mães lactantes ilustra o alcance da tragédia. Heba al-Aqra, de Deir al-Balah, relatou que sua filha de três meses pesa apenas dois quilos. “Estou exausta. Sinto tontura quando amamento, porque também não tenho comida suficiente”, contou.
Para especialistas da OMS, sem reforço alimentar para mães e filhos, a deterioração da saúde é veloz e devastadora. Em condições precárias de saneamento, falta de água potável e alta incidência de doenças, a imunidade comprometida multiplica os riscos de morte.
Fome usada como arma de guerra
Apesar de o bloqueio ter sido parcialmente afrouxado em julho, a entrada de ajuda permanece insuficiente e caótica. Segundo relatório da ONU, cerca de 90% da comida enviada a Gaza é saqueada antes de alcançar os pontos de distribuição, deixando os mais vulneráveis sem acesso a qualquer assistência.
A ONU já acusou Israel de “usar a comida como arma de guerra”, classificando a prática como crime de guerra. Organizações humanitárias reiteram que o genocídio se manifesta não apenas nos bombardeios, mas também na fome deliberadamente imposta.
Uma geração condenada
A OMS estima que o número de crianças menores de cinco anos em desnutrição aguda quase dobrou em julho, chegando a mais de 12 mil. Dessas, 2.500 apresentam o estágio mais severo, com risco imediato de morte.
“O volume total de alimentos nutritivos continua completamente insuficiente. O mercado precisa ser inundado, é preciso diversidade alimentar”, alertou Rik Peeperkorn, representante da OMS para a Palestina.
Enquanto isso, famílias famintas enfrentam filas intermináveis em cozinhas comunitárias e abrigos improvisados. O retrato é de um povo submetido a uma política de extermínio pela fome, que atinge em cheio as crianças, o elo mais frágil da sociedade.