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      Discussão sobre tropas na Ucrânia causa desconforto e divide a Alemanha

      Sinal verde de Merz à presença de soldados na Ucrânia enfrenta críticas da AfD e dúvidas na coalizão de governo

      Novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, durante conferência do partido CDU em Berlim - 28/04/2025 (Foto: REUTERS/Lisi Niesner)
      José Reinaldo avatar
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      247 - As conversas entre aliados europeus sobre o envio de uma “força de paz” para proteger a Ucrânia, como parte de um eventual acordo com a Rússia, reacenderam um debate sensível na Alemanha e expuseram divisões internas no país. A reportagem original é da agência Reuters, publicada nesta quinta-feira (21).

      Segundo a agência, o chanceler Friedrich Merz sinalizou abertura para que a Alemanha integre uma “missão de paz” na Ucrânia, condicionando qualquer passo a uma decisão conjunta com parceiros europeus e à aprovação de sua própria coalizão. Ele observou que um eventual envio de militares provavelmente exigiria um mandato do Parlamento, enquanto a Rússia rejeita categoricamente a presença de tropas de países da OTAN no terreno, tornando incerta a formatação de uma força desse tipo.

      A reação doméstica foi imediata. A líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, acusou os conservadores de Merz de belicismo por sequer considerar a hipótese de tropas terrestres, classificando a proposta como “perigosa e irresponsável”. Já o ministro das Relações Exteriores, Johann Wadephul, aliado de Merz, advertiu que enviar soldados à Ucrânia “provavelmente nos sobrecarregaria”.

      O tema toca em feridas históricas e limitações atuais. Há desconforto na sociedade alemã com missões militares no exterior — à luz do passado nazista e de experiências recentes no Afeganistão e no Mali —, além de resistência ao volume de recursos destinados à ajuda à Ucrânia em meio à fraqueza da economia doméstica. Formuladores de políticas temem sobrecarregar um Exército que foi negligenciado por anos e se ver arrastado a um confronto direto com uma potência nuclear.

      Especialistas avaliam que o governo tende à prudência. “Algo assim é obviamente extremamente controverso na Alemanha”, disse Marcel Dirsus, pesquisador do Instituto de Política de Segurança da Universidade de Kiel. Para ele, “não faz sentido gastar capital político em algo que pode não acontecer”.

      Merz, que venceu as eleições prometendo tornar as forças armadas convencionais alemãs as mais poderosas da Europa, busca conter especulações. O líder parlamentar da CDU, Jens Spahn, enviou carta a deputados pedindo que evitem declarações públicas sobre o assunto, segundo vazamento à imprensa. A popularidade de Merz caiu desde a posse, enquanto a AfD — contrária ao envio de armas a Kiev e com posições simpáticas à Rússia — lidera pesquisas nacionais. Em postagem no X, o partido publicou uma imagem com a frase: “Merz quer mandar VOCÊ para a Ucrânia? Nós não!”.

      Opinião pública dividida

      O debate alemão contrasta com sinais mais assertivos na França e no Reino Unido. O presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer já se manifestaram a favor de um papel de tropas em um cenário pós-guerra. Na Alemanha, porém, a sociedade se mostra partida: pesquisa da Forsa para RTL/ntv indica que 49% apoiariam o envio de soldados alemães a uma força de paz europeia, enquanto 45% se opõem. O ceticismo é mais forte no Leste do país, região que terá eleições estaduais no próximo ano.

      Sven Schulze, líder regional da CDU em Saxônia-Anhalt, afirmou que a Bundeswehr mal teria condições de mobilizar efetivos. Para ele, é prioritário construir “uma forte arquitetura de segurança europeia”. E acrescentou: “Qualquer outra coisa nos sobrecarregaria como país e também à Bundeswehr”.

      Divergências na coalizão e no Parlamento

      Dentro da coalizão de governo, o ceticismo cresce sobretudo entre os sociais-democratas, tradicionalmente defensores do engajamento com Moscou. “A Alemanha deve ficar de fora deste assunto”, disse Ralf Stegner, parlamentar da ala pacifista do SPD. “O envio de soldados alemães para a região também é extremamente difícil por razões históricas”.

      No Parlamento, há quem veja uma eventual necessidade de presença alemã caso um cessar-fogo duradouro seja firmado entre Rússia e Ucrânia. Thomas Roewekamp, presidente da comissão de Defesa e deputado da CDU, afirmou em entrevista ao programa Morgenecho, da WDR 5.: “E, para tornar a dissuasão crível, precisamos ter capacidades militares”,

      Questionado sobre um possível desdobramento de tropas, Merz foi taxativo ao apostar na cautela temporária: “Hoje ainda é cedo para dar uma resposta definitiva.”

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