Acadêmicos pedem à Uefa que expulse Israel do futebol europeu por genocídio em Gaza
Mais de 30 especialistas em direito internacional alertam que a participação de Israel no futebol europeu legitima crimes contra palestinos
247 – Mais de 30 especialistas em direito internacional pediram à União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) que suspenda Israel e seus clubes de todas as competições, em razão das atrocidades cometidas contra o povo palestino em Gaza. A carta, enviada na quinta-feira (3) ao presidente da entidade, Aleksander Ceferin, foi revelada pela Al Jazeera e classifica a medida como “imperativa”, citando relatório de investigadores da ONU que confirma a prática de genocídio contra os palestinos.
Os signatários afirmam que a Uefa tem “obrigações legais e morais de respeitar o direito internacional” e deve avançar imediatamente para um banimento completo do futebol israelense. O documento ressalta que pelo menos 421 jogadores palestinos foram mortos desde o início da ofensiva militar israelense, em outubro de 2023, e denuncia que a campanha de bombardeios “está destruindo sistematicamente a infraestrutura esportiva de Gaza”.
Geração de atletas destruída
“Orações inteiras de atletas foram dizimadas, erodindo o tecido do esporte palestino”, diz a carta. Para os especialistas, a Associação de Futebol de Israel (IFA), ao não contestar as violações, torna-se cúmplice do sistema de opressão, o que torna insustentável sua presença em competições europeias.
Entre os signatários estão Elisa von Joeden-Forgey, diretora executiva do Lemkin Institute for Genocide Prevention, além de ex-especialistas da ONU e juristas de renome internacional. O grupo alerta: “A Uefa não pode ser cúmplice do sportswashing de crimes tão flagrantes contra o direito internacional, incluindo o genocídio”.
Hipocrisia diante de precedentes
O ex-diretor do Escritório de Direitos Humanos da ONU em Nova York, Craig Mokhiber, foi enfático ao comparar o caso com o apartheid sul-africano:
“Permitir que um país que comete genocídio participe do esporte é um ato de cumplicidade. No caso da África do Sul, o mundo se uniu para isolar o regime, inclusive com boicotes esportivos. A Uefa deve agir da mesma forma agora.”
Mokhiber também acusou a entidade de “hipocrisia e duplo padrão” ao reagir rapidamente contra a Rússia, suspensa pela Fifa e pela Uefa em 2022 após invadir a Ucrânia, mas permanecer inerte diante do genocídio em Gaza.
Pressão crescente e resposta fraca da Uefa
A pressão internacional cresce. Em agosto, Israel matou em um bombardeio o lendário jogador palestino Suleiman al-Obeid, conhecido como o “Pelé palestino”. A Uefa chegou a publicar uma homenagem, mas foi criticada por Mohamed Salah, astro do Liverpool, que perguntou: “Podem nos dizer como ele morreu, onde e por quê?”.
Apesar disso, relatos indicam que uma votação para suspender Israel foi adiada após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgar um plano de cessar-fogo em Gaza. A carta alerta que a proposta não isenta a Uefa de agir: “O plano mina o direito internacional e não impõe nenhuma obrigação a Israel”.
Anistia Internacional também cobra sanção
Na quarta-feira (2), a Anistia Internacional reforçou o apelo para que a Fifa e a Uefa suspendam Israel. Agnes Callamard, secretária-geral da organização, declarou:
“Enquanto a seleção israelense se prepara para as eliminatórias da Copa contra Noruega e Itália, o país continua a perpetrar genocídio em Gaza e a expandir ilegalmente assentamentos na Cisjordânia”.
Movimento ganha as ruas e estádios
Torcedores em cidades como Glasgow, Paris, Roma e Bilbao têm exibido bandeiras palestinas nos estádios. O grupo Game Over Israel, que organizou a carta, mantém campanha global de mídia. No mês passado, patrocinou um enorme painel na Times Square, em Nova York, com a frase: “Israel está cometendo genocídio. Federações de futebol: boicotem Israel”.
Ashish Prashar, diretor da campanha, afirmou:
“É imperativo seguir o modelo aplicado ao apartheid sul-africano, derrubando Israel da cultura e do esporte, começando pelo futebol”.
Fifa resiste e reforça laços com EUA
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, aliado próximo de Donald Trump, descartou medidas imediatas: “A Fifa não pode resolver problemas geopolíticos, mas pode promover o futebol e seus valores humanitários”. Para Mokhiber, essa posição normaliza o genocídio: “Eu perguntaria a Infantino se ele teria permitido que a Alemanha nazista jogasse durante o Holocausto”.
Enquanto a Uefa e a Fifa se omitem, cresce a mobilização de juristas, ativistas e torcedores que veem no boicote esportivo um caminho histórico e eficaz para pressionar Israel e expor ao mundo os crimes cometidos contra os palestinos.