Imprensa francesa critica tarifaço de Trump e denuncia ataque à soberania do Brasil
Segundo os Jornais franceses, as medidas têm caráter político e afetam diretamente a soberania dos países atingidos
247 - A adoção de novas tarifas comerciais pelos Estados Unidos, sob o comando do presidente Donald Trump, provocou forte reação da imprensa francesa nesta quinta-feira (7). Segundo a RFI, o aumento generalizado das alíquotas, que afeta cerca de 80 países, incluindo o Brasil, foi amplamente repercutido por veículos como Les Echos, Le Parisien, Le Figaro e Libération. De acordo com os jornais franceses, as medidas têm caráter político e afetam diretamente a soberania dos países atingidos.
Na véspera, quarta-feira (6), o Brasil foi incluído no pacote com tarifas de 50% sobre boa parte de seus produtos exportados aos EUA. Conforme relatado pelo jornal econômico Les Echos, o governo brasileiro, setores empresariais e grupos de lobby atuaram até o último momento na tentativa de mitigar os impactos das novas tarifas, mas as negociações fracassaram. A publicação lembra que a imposição das taxas também foi influenciada pela forma como o Brasil conduziu suas relações internacionais durante o governo de Jair Bolsonaro.
O Les Echos destaca que a tensão interna no país aumentou após a decisão do ministro Alexandre de Moraes de determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro. O episódio, segundo o jornal, deve dificultar ainda mais qualquer tentativa de reverter as sobretaxas recém-impostas.
Em editorial, o Le Parisien classificou o tarifaço como um instrumento de "ingerência" e criticou o uso de barreiras comerciais como ferramenta política. O jornal destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) considerou a medida como uma afronta à soberania nacional. Brasília e apresentou uma consulta formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a decisão de Washington. Países como Canadá e Índia também foram incluídos na lista dos afetados.
O diário francês ainda ouviu Romuald Sciora, diretor do Observatório Político e Geoestatégico dos Estados Unidos do Instituto Francês de Relações Internacionais e Estratégicos (IRIS), que declarou: “No início de seu mandato a guerra comercial declarada por Trump visava agradar seu eleitorado e aumentar a arrecadação dos cofres públicos. Agora, ela atingiu outra dimensão, com o caminho livre para todos os abusos”.
Enquanto isso, o Le Figaro chamou atenção para os efeitos do tarifaço sobre a Europa, destacando em sua manchete: “A punição de Trump atinge a Europa”. O jornal lembrou que, até o momento, não foi divulgado nenhum documento oficial detalhando o suposto acordo firmado entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, o que tem gerado incertezas sobre o alcance e os critérios das tarifas, fixadas em 15% para diversos produtos europeus.
Segundo o Le Parisien, a lista de produtos que poderão ser excluídos das medidas ainda não está fechada e é possível que as taxas sofram alterações. Entre as principais dúvidas estão os vinhos e destilados, itens de peso nas exportações francesas, cuja eventual isenção ainda não foi confirmada.
Ainda de acordo com a RFI, as preocupações também se espalham entre os pequenos e médios produtores da França. O jornal Libération relata o temor desses setores diante do impacto econômico das novas medidas. A apreensão aumentou após Trump ameaçar, no início da semana, aplicar tarifas de até 250% sobre medicamentos europeus num prazo de um ano.
Outro ponto crítico refere-se aos semicondutores e chips. Até ontem, havia incerteza sobre esses componentes, mas, segundo o Le Parisien, o presidente norte-americano decidiu impor uma tarifa de 100% sobre eles — uma medida que poderá elevar ainda mais os preços de medicamentos nos Estados Unidos, ao afetar a cadeia produtiva do setor farmacêutico.
O Les Echos resumiu a situação ao afirmar que o novo protecionismo adotado por Trump representa ao mesmo tempo uma fonte bilionária de arrecadação e um obstáculo econômico de grandes proporções. O jornal destaca que, com a entrada em vigor das medidas, os EUA passam a ter as tarifas alfandegárias mais altas desde a década de 1930. Apesar da estimativa de arrecadação de bilhões de dólares por mês, o impacto sobre o crescimento econômico e a ameaça inflacionária são pontos de alerta crescentes.
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