Estado de S. Paulo também legitima agressão de Trump e Netanyahu ao Irã
Em editorial, jornal naturaliza bombardeios contra instalações nucleares iranianas e adota sem críticas a narrativa belicista dos EUA e de Israel
247 – Em editorial publicado nesta segunda-feira, 23, sob o título A aposta de Trump, o jornal O Estado de S. Paulo escancara sua adesão à retórica belicista dos Estados Unidos e de Israel, ao legitimar, sem reservas, a recente agressão militar ao Irã, assim como fez o jornal O Globo. O texto endossa a operação Martelo da Meia-Noite, ordenada pelo presidente americano Donald Trump — reeleito para um segundo mandato em 2025 —, e apresenta como “cirúrgico” o bombardeio de três instalações nucleares subterrâneas iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan.
A narrativa do editorial abdica de qualquer espírito crítico e assume como plausível a justificativa de que se tratou de um ato “preventivo e decisivo”, destinado a “desarmar Teerã e forçá-la a negociar”. Ao naturalizar a agressão, o jornal adere à lógica da força, omitindo o fato de que os ataques violam normas do direito internacional e colocam o mundo à beira de um novo conflito devastador no Oriente Médio. Ignora-se o precedente perigoso de bombardear instalações nucleares de um país soberano, sem autorização do Conselho de Segurança da ONU.
Ao repetir que Trump “não quer envolver os EUA numa nova guerra”, o Estado de S. Paulo assume, com impressionante complacência, a tese propagandística do “ataque para evitar a guerra” — fórmula típica de intervenções imperialistas que historicamente resultaram em tragédias humanas, como no Iraque e na Líbia. Mais uma vez, o jornal desconsidera o custo humano e geopolítico da operação, preferindo descrever o gesto como uma jogada tática engenhosa, digna de elogio.
O Irã, na leitura do editorial, é o único responsável pela escalada e teria agora três caminhos: conter-se, escalar ou se esconder. Nenhuma linha é dedicada ao contexto de prolongadas provocações militares, assassinatos seletivos e sanções econômicas lideradas pelos EUA e Israel. Tampouco há qualquer menção ao direito do Irã à soberania nacional e à autodeterminação — princípios que, em outras circunstâncias, o próprio jornal se apressa a defender.
A omissão de críticas ao papel de Israel é igualmente reveladora. O editorial passa ao largo do fato de que os ataques dos últimos meses, realizados por Tel Aviv com apoio logístico e diplomático dos EUA, intensificaram o colapso regional. A campanha militar israelense contra grupos aliados do Irã na Síria, no Líbano e no Iêmen, somada à queda do regime de Bashar al-Assad, serve como pano de fundo para um movimento de cerco ao regime iraniano. Nada disso é analisado pelo Estado de S. Paulo.
Na conclusão, o editorial cita a frase de Trump — “O Irã, o valentão do Oriente Médio, deve agora fazer a paz” — como se fosse uma advertência legítima, e não uma ameaça explícita. Ao qualificar a operação como “militarmente eficaz”, o jornal não apenas chancela a violência, mas a transforma em argumento diplomático, colaborando para a normalização da guerra como ferramenta legítima de negociação.
Com isso, O Estado de S. Paulo mais uma vez revela sua disposição em ecoar interesses estratégicos de Washington e Tel Aviv, sem preocupação com a paz internacional ou com o papel que o jornalismo deveria cumprir: o de questionar o poder, e não o de servi-lo. O editorial desta segunda-feira 23 é, portanto, não uma análise ponderada da crise, mas um panfleto que legitima a guerra.
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