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“Trump e Netanyahu querem derrubar o governo do Irã”, diz Rogério Anitablian

Para o analista geopolítico, objetivo dos EUA e de Israel vai além do programa nuclear iraniano e mira a desestruturação do Estado iraniano

Khamenei e Trump (Foto: Reuters)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em entrevista concedida ao jornalista Ricardo Nêggo Tom, no programa Boa Noite 247, o analista Rogério Anitablian afirmou que tanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quanto o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, têm como objetivo comum a mudança de regime no Irã.

Segundo Anitablian, as recentes declarações de Trump e de líderes israelenses revelam uma estratégia mais profunda do que simplesmente impedir o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã. “Me parece que o objetivo deles é a deposição do governo iraniano e a criação de uma nova dinâmica dentro do Irã”, afirmou. Ele destacou que o país persa é composto por diversas minorias étnicas com pretensões separatistas, como curdos, árabes, azeris e baluques, e que uma possível fragmentação territorial do Irã está no centro do plano de Washington e Tel Aviv.

Ataques em áreas sensíveis e aliança com o Azerbaijão

Anitablian observou que os ataques israelenses ao Irã se concentram na região noroeste do país, onde vivem essas minorias étnicas. Ele apontou que Israel mantém uma aliança estratégica com o Azerbaijão, incluindo bases operacionais, postos de inteligência do Mossad e instalações para lançamento de drones. Segundo ele, “há uma decisão de setores dos governos de Israel e dos Estados Unidos que pretendem uma disruptura, uma queda do governo iraniano, em prol de um novo projeto para tornar o Irã provavelmente uma nova Síria, um novo Iraque, uma nova Líbia”.

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, também está no centro das ameaças. Em resposta a declarações de Trump que sugerem sua eliminação, Khamenei afirmou que o Irã não se renderá e que os EUA sofrerão as consequências por entrarem na guerra. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, foi ainda mais explícito ao dizer que “Khamenei não deve mais existir”, após o ataque a um hospital no sul de Israel atribuído ao Irã.

Para Anitablian, essas declarações revelam uma tentativa de desumanização do inimigo, tática utilizada para justificar ações extremas. “O chefe da Guarda Revolucionária Iraniana e o chefe do Estado-Maior foram assassinados nos primeiros dias do ataque israelense. Isso não foi contestado pela mídia ocidental. A linha entre terrorismo e ação legítima é muito tênue”, observou.

BRICS e o papel da Rússia e China

Ao tratar das possíveis reações de países dos Brics ao conflito, Anitablian foi categórico: “Não vejo que o ataque de Israel ao Irã esteja vinculado a um ataque aos Brics, nem que haja uma reação unificada do bloco. Cada país tem interesses próprios e relações relevantes com ambos os lados”.

Ele explicou que Rússia, China e Índia mantêm relações econômicas e até militares tanto com Teerã quanto com Tel Aviv. A Rússia, por exemplo, tem profundos laços culturais e econômicos com Israel e atua como mediadora no conflito. A China, grande compradora de petróleo iraniano, também mantém forte cooperação com Israel em setores como tecnologia e infraestrutura. A Índia, por sua vez, importa energia do Irã, mas também tem uma indústria bélica próxima da israelense.

Turquia e o xadrez do Cáucaso

Anitablian também comentou o papel da Turquia, país sunita com ambições históricas sobre a região de Tabriz, no noroeste do Irã, habitada majoritariamente por azeris. Ele ressaltou que “a Turquia não deve apoiar os iranianos”, considerando sua aliança com o Azerbaijão e o desejo de enfraquecer o poder iraniano sobre áreas que os turcos consideram culturalmente próximas. “O presidente Erdogan já recitou diversos poemas exaltando a região de Tabriz, deixando clara sua aspiração à influência política sobre o Cáucaso e partes do Irã”, observou.

Encerrando sua participação, Anitablian voltou a destacar o caráter geopolítico da escalada. Para ele, o que está em jogo é a tentativa de transformar o Irã em um novo palco de fragmentação estatal, como já ocorreu na Líbia, Síria e Iraque. “Os sinais são claros: o objetivo não é apenas conter o Irã, mas destruí-lo como unidade soberana”, afirmou. Assista:

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