Brasil dá 'lição de maturidade' e assume o lugar dos EUA como 'adulto democrático' do Ocidente, diz The Economist
Publicação britânica aponta que o Brasil, ao contrário dos EUA, mantém regras democráticas e busca reformas institucionais com a ação do STF
247 - A revista britânica The Economist destaca, nesta quinta-feira (28), que o Brasil é um exemplo de “maturidade democrática” nas Américas. A publicação afirma que, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, os políticos tradicionais brasileiros, tanto da esquerda quanto da direita, seguem as regras democráticas e buscam o progresso por meio de reformas institucionais. ”Pelo menos temporariamente, o papel do adulto democrático do hemisfério ocidental se deslocou para o sul”, diz um trecho da reportagem.
“A comparação mais marcante do Brasil é com os Estados Unidos. Os dois países parecem estar trocando de lugar. Os EUA estão se tornando mais corruptos, protecionistas e autoritários — com Donald Trump esta semana mexendo com o Federal Reserve e ameaçando cidades controladas pelos democratas. Em contraste, mesmo com o governo Trump punindo o Brasil por processar Bolsonaro, o próprio país está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia”, destaca a publicação.
“Felizmente, a interferência do Sr. Trump provavelmente sairá pela culatra. Apenas 13% das exportações brasileiras vão para os Estados Unidos, e consistem principalmente de commodities, para as quais novos mercados podem ser encontrados. Os EUA já concederam inúmeras isenções. Até agora, os ataques do Sr. Trump apenas fortaleceram a posição de Lula nas pesquisas de opinião e lhe deram uma desculpa para qualquer notícia econômica ruim antes da próxima eleição, em outubro de 2026”, destaca o texto.
A análise da revista também enfatiza o papel fundamental do Supremo Tribunal Federal (STF), que é visto como uma “barreira contra o autoritarismo”. A reação da Corte à tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, que ocorreu após o término do mandato de Jair Bolsonaro (PL), foi descrita como uma resposta reflexiva à memória do golpe militar de 1964. A Constituição de 1988, a "Constituição Cidadã", moldou o país e se consolidou como um pilar essencial para a manutenção da democracia.
No entanto, a The Economist não deixa de ressaltar que o Supremo é alvo de críticas, apesar de sua postura em defesa da democracia. “O STF julga milhares de casos por ano, abrangendo desde impostos até questões culturais, muitas vezes atuando simultaneamente como vítima, acusadora e juíza, o que gera debate sobre o excesso de poder”, escreveu a publicação. Essa dinâmica gerou controvérsia, especialmente no cenário político atual, em que as decisões da Corte têm um impacto significativo no rumo do país.
O artigo também menciona pesquisas de opinião que indicam que a maioria dos brasileiros acredita que Bolsonaro tentou se manter no poder à força após as eleições de 2022. “Governadores conservadores, que buscam o apoio do ex-presidente para concorrer à Presidência em 2026, criticam seu estilo político”, acrescenta a The Economist. A revista ressalta que, no próximo dia 2 de setembro, o STF iniciará o julgamento de Bolsonaro, conhecido como o "Trump dos trópicos".
O julgamento trará à tona evidências de uma conspiração que envolveu um ex-general de quatro estrelas, planejando anular os resultados das eleições. A tentativa de golpe fracassou, segundo a análise da publicação, por incompetência e não por falta de intenção.