Trump reconhece Putin como potência igual e muda rumos da guerra na Ucrânia, avalia José Arbex Jr.
Analista geopolítico afirma que encontro no Alasca simboliza o fim do isolamento da Rússia e expõe fragilidade da Europa diante do conflito
247 – Em entrevista ao programa Forças do Brasil, transmitido pela TV 247 em 16 de agosto de 2025 e apresentado por Mario Vitor Santos, o jornalista e analista geopolítico José Arbex Jr. analisou os impactos da cúpula entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, realizada no Alasca. Segundo Arbex, o encontro representa uma virada histórica nas relações internacionais e marca o reconhecimento da Rússia como uma potência de igual para igual com os Estados Unidos, rompendo décadas de isolamento promovido pelo Ocidente.
“Essa cúpula foi extremamente importante, independente do que foi discutido. O simples fato de Putin ter sido recebido com tapete vermelho e de ter aberto a comunicação com a imprensa já mostra que a Rússia deixou de ser tratada como uma potência de segunda classe”, afirmou Arbex.
A derrota dos neoconservadores
Arbex destacou que o encontro simboliza uma ruptura profunda na política externa dos EUA. Ele lembrou que, desde a dissolução da União Soviética, em 1991, a doutrina dominante em Washington — formulada por estrategistas como Zbigniew Brzezinski — defendia o cerco e a contenção da Rússia, inclusive com a incorporação da Ucrânia à OTAN. Essa estratégia foi amplamente abraçada pelos neoconservadores, corrente que guiou presidentes anteriores, inclusive Joe Biden.
Segundo Arbex, Trump rompeu com essa linha:
“Ontem os neoconservadores foram derrotados. O Trump representa outra visão, mais isolacionista e unilateralista, que rejeita o globalismo e aposta em acordos pontuais de força. Isso não significa que ele seja favorável à Rússia, mas que joga com outra lógica de poder.”
Ucrânia encurralada e fragilidade da Europa
Na avaliação de Arbex, o maior derrotado do encontro no Alasca foi o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ao perder o respaldo decisivo dos Estados Unidos, a Ucrânia teria entrado num beco sem saída.
“Ontem acabou a guerra. Não no sentido imediato, mas no sentido de que a Europa não tem condições de sustentar a Ucrânia sozinha. Seria necessário desmontar o Estado de bem-estar social europeu para financiar uma guerra desse porte. Isso nunca vai acontecer”, disse o analista.
Ele acrescentou que a Rússia avança “centímetro a centímetro” no campo de batalha, consolidando posições, e que a Ucrânia já não possui reservas humanas e financeiras para resistir.
“A melhor coisa que Zelensky poderia fazer é aceitar a derrota de fato e negociar o que ainda for possível.”
Bastidores e especulações
O analista também comentou especulações publicadas pela imprensa britânica de que Putin teria acesso a arquivos comprometedores de Jeffrey Epstein, envolvendo figuras do alto escalão do poder mundial, entre elas Trump. Embora tenha evitado entrar em conjecturas, Arbex afirmou que a submissão de Trump a Putin ficou evidente no encontro:
“Trump mostrava uma deferência patética, chegou a esperar sozinho no tapete vermelho enquanto Putin descia do carro.”
Além disso, destacou a exploração, por parte de Putin, da fragilidade cognitiva do presidente norte-americano:
“Trump não consegue sequer andar em linha reta. Seu discurso é cada vez mais incoerente. O Putin soube explorar isso com frieza.”
Impactos globais e papel dos BRICS
O encontro também reposiciona a disputa geopolítica em outras regiões. Arbex citou o acordo de paz forçado por Trump entre Armênia e Azerbaijão, que abre o corredor de Zangezur para rotas comerciais administradas por empresas norte-americanas, em contraponto à Nova Rota da Seda da China.
No plano global, os BRICS aparecem como elemento central na estratégia de Putin:
“Foram os BRICS que devolveram projeção internacional à Rússia. Para Putin, essa aliança é vital. Hoje discute-se até a adoção de uma cláusula de defesa mútua semelhante à da OTAN”, observou Arbex.
Um novo cenário mundial
Para Arbex, a cúpula entre Trump e Putin não pode ser lida como um gesto isolado, mas como um marco da redefinição das correlações de força no sistema internacional.
“O mundo amanheceu diferente. A Rússia foi reconhecida como uma igual, e a Ucrânia ficou sem futuro. Agora, os desdobramentos dependerão da capacidade da Europa, dos Estados Unidos e dos BRICS de reposicionar suas estratégias.”