Pix é inovação tecnológica e não deve ser alvo de questionamento dos EUA, diz Mercadante
Presidente do BNDES defendeu soberania do Brasil e criticou sanções unilaterais impostas pelo governo de Donald Trump
247 - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, declarou nesta terça-feira (19) que o Pix é uma inovação tecnológica brasileira e não pode ser tratado como questão comercial pelos Estados Unidos. A fala foi registrada pelo portal InfoMoney.
Segundo Mercadante, a ferramenta de pagamento instantâneo, criada pelo Banco Central em 2020, é um avanço que trouxe benefícios diretos para a população e para a competitividade no mercado. “O Pix é uma inovação tecnológica, gratuita, melhora a vida, o intercâmbio, a troca, é uma forma extremamente contemporânea de moeda eletrônica. A inovação faz parte da competição entre os países”, afirmou.
Ele destacou que a adoção da tecnologia não pode ser interpretada como ameaça às relações comerciais. “É uma mudança que não pode ser questionada na relação comercial dos países. Se os cartões de crédito perdem algum mercado, faz parte da concorrência, isso é saudável, isso é eficiência. Você não pode substituir a busca de produtividade e competitividade por regras de um mundo unilateral autoritário de imposições de sanções”, declarou.
Crítica às sanções e defesa da soberania
Mercadante se referia às medidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que incluiu menções ao Pix ao justificar tarifas sobre produtos brasileiros. Durante a Aula Magna “Desenvolvimento, democracia e sustentabilidade”, realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele reforçou que o país não abrirá mão de sua autonomia.
“Soberania e democracia a gente não negocia. Nós vamos manter e defender o direito do povo brasileiro de definir o que vai ser feito no Brasil. Sem soberania você não tem democracia”, disse, ao se solidarizar com aqueles que, segundo ele, vêm sofrendo pressões e sanções arbitrárias.
Julgamento no STF e tentativa de golpe
O presidente do BNDES também comentou o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), que analisa a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros réus na tentativa de golpe de Estado.
“O que é o julgamento que o Brasil terá que enfrentar e que está enfrentando? Nós tivemos uma tentativa de golpe. Eu estava na coordenação da transição de governo. Vivi de dentro cada dia, cada hora o que estava acontecendo”, lembrou.
Mercadante citou ainda episódios ligados aos atos de 8 de janeiro, como a tentativa de explosão de um caminhão perto do aeroporto de Brasília, os planos de assassinato de membros do governo e a invasão da sede da Polícia Federal. “No 8 de janeiro, era uma ação orquestrada. Destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso e, sobretudo, o Supremo Tribunal Federal. Por quê? Para passar a imagem de caos”, declarou.
Ele fez questão de ressaltar que a instituição militar como um todo não participou dos atos. “O CNPJ das Forças Armadas não participou do golpe, ele teve um papel fundamental na estabilização da democracia. Nós precisamos reconhecer isso e valorizar essa ação. E é o CPF de alguns que está sendo julgado, são eles que estão sendo julgados. A instituição foi fundamental para preservar a democracia.”
Regulação das big techs
Mercadante também defendeu a regulação das grandes plataformas digitais, apontando a necessidade de impor regras de responsabilidade no ambiente digital.
“Não há vontade de prejudicar ou deixar de usar as plataformas, uma vez que são importantes na sociedade contemporânea, mas sim de implementar regras de responsabilização. Aquilo que vale no direito na sociedade tem que valer também no mundo digital, não pode ser uma terra sem lei”, argumentou.
Segundo ele, o objetivo é criar um marco civilizatório que garanta equilíbrio entre liberdade de expressão e preservação da democracia: “Nós queremos algumas regras civilizadas de responsabilidade em relação a valores que são fundamentais para o convívio e para a civilização.”