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'Metralhadora tarifária' de Trump isola os EUA e aproxima países atingidos

Com tarifas dos EUA, aliados como Japão, Canadá e México buscam novos mercados e Ásia se fortalece como alternativa estratégica global

Porto de Santos (Foto: Divulgação/Porto de Santos)
Guilherme Levorato avatar
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247 - A política comercial adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem provocado mudanças profundas na dinâmica do comércio internacional. Segundo reportagem publicada pelo O Globo, o que analistas têm chamado de “metralhadora tarifária” do líder republicano vem incentivando a reconfiguração de alianças entre países e blocos econômicos, abrindo espaço para novas parcerias longe da influência norte-americana.

Com tarifas elevadas aplicadas de maneira unilateral, Trump tem colocado aliados históricos dos EUA, como Japão, Canadá e México, em situação delicada. Em resposta, essas nações passaram a intensificar suas relações comerciais com países da Ásia, Europa e América Latina, buscando reduzir a dependência do mercado americano.

União Europeia, Ásia e Mercosul reagem - A União Europeia, por exemplo, tem se aproximado de economias asiáticas diante das incertezas geradas por Washington. Após encontro com o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou: “vivemos tempos turbulentos e, quando a incerteza econômica encontra a volatilidade geopolítica, parceiros como nós precisam se aproximar”.

Subianto retribuiu o gesto destacando a relevância da Europa para a estabilidade mundial: "no Sudeste Asiático, especialmente na Indonésia, realmente consideramos a Europa muito importante para proporcionar estabilidade global”.

A Indonésia é um exemplo claro da tensão provocada pelas tarifas americanas. Com exportações de US$ 40 bilhões para os EUA em 2024, o país conseguiu negociar a redução da tarifa de 32% imposta por Trump para 19%, após o que chamou de “luta extraordinária”.

No Brasil, a presidência temporária do Mercosul levou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a redirecionar o foco para o continente asiático. De acordo com fontes oficiais, a ordem é intensificar negociações com países como Japão, Vietnã e Indonésia. “As negociações com os Emirados Árabes estão em fase final. Queremos encerrar o ano com a assinatura dos acordos com UE e Efta”, revelou uma fonte ligada ao governo.

China, Japão e Coreia do Sul avançam em bloco - A nova geopolítica comercial também estimulou um raro entendimento entre China, Japão e Coreia do Sul. Em março de 2025, os três países asiáticos retomaram o diálogo econômico após cinco anos, com o objetivo de firmar um tratado de livre comércio abrangente.

O ex-embaixador brasileiro na China, Marcos Caramuru, que hoje é conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), considera que esse novo cenário exige escolhas estratégicas: “o acordo entre Mercosul e UE deveria ganhar nova tração, porque os europeus deveriam abrir novos mercados. Estamos vivendo um período de acomodação muito grande”.

Caramuru ainda alerta: “vão seguir as políticas de Trump ou as regras do comércio internacional? Na minha avaliação, o resto do mundo não tem muita alternativa senão seguir as regras. Um comércio desorganizado prejudica todo mundo”.

China amplia liderança comercial - Para o professor Evandro Menezes de Carvalho, da UFF e da FGV do Rio, a China está especialmente preparada para lidar com os embates comerciais com os EUA. “A pandemia também acelerou o processo de diversificação de mercados para produtos chineses. Agora, a China, que é o maior parceiro comercial de 140 países no mundo, buscará ampliar esse comércio”.

Entre os movimentos recentes está o aprofundamento das relações entre China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), com foco em temas como economia digital e verde. Apenas no primeiro trimestre de 2025, o fluxo comercial entre os dois ultrapassou US$ 230 bilhões, segundo dados da alfândega chinesa.

O professor destaca que a diplomacia econômica chinesa se baseia na previsibilidade e busca expandir também suas parcerias com África e América Latina.

México também mira novos mercados - No México, o impacto foi severo: uma tarifa de 17% sobre o tomate imposto por Trump, sob pressão da indústria da Flórida, causou alvoroço no setor agrícola. Para Gustavo Robles, diretor jurídico da Associação Mexicana de Horticultura Protegida, a solução pode estar do outro lado do Pacífico: “a Ásia pode ser uma boa oportunidade para nós. Japão e Coreia do Sul poderiam ser novos destinos”.

Já Antonio Ortiz-Mena, professor da Universidade de Georgetown e CEO da consultoria AOM Advisors, foi direto ao criticar a medida de Trump: “o principal estado produtor de tomates é Sinaloa. Trump, com sua medida, poderá deixar 500 mil trabalhadores sem emprego, que podem terminar se tornando imigrantes ilegais nos EUA ou atuando no crime organizado”.

Enquanto os efeitos da política tarifária de Donald Trump se espalham, o mundo assiste a uma reorganização de fluxos e alianças comerciais. Países e blocos tentam se proteger da instabilidade, e o futuro dependerá da capacidade de transformar essas intenções em acordos concretos. O Mercosul, por exemplo, ainda espera há mais de duas décadas a entrada em vigor do tratado com a União Europeia.

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