Governo aposta em negociação com EUA para reverter tarifa de Trump e evitar prejuízos bilionários
Setores da indústria e do agro pedem diálogo e descartam retaliação imediata ao tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos EUA
247 - A primeira reunião entre representantes do governo Lula (PT) e lideranças do setor produtivo brasileiro para debater os impactos da tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve como ponto central a defesa do diálogo diplomático. O encontro, realizado em Brasília nesta terça-feira (15), reuniu ministros, empresários da indústria e do agronegócio, e selou a estratégia inicial: negociar com a Casa Branca antes de cogitar qualquer tipo de retaliação comercial.
De acordo com o jornal O Globo, o consenso entre os participantes foi de que o Brasil deve esgotar todas as possibilidades de entendimento com os norte-americanos antes de adotar medidas de resposta. Em nota conjunta, a Câmara de Comércio dos EUA e a Amcham Brasil também reforçaram o apelo por “negociações de alto nível”, alertando que o uso de tarifas como instrumento de pressão política pode afetar gravemente uma das mais importantes relações econômicas dos EUA, além de criar precedentes arriscados.
Segundo os dados divulgados pelas entidades, mais de 6,5 mil pequenas empresas norte-americanas dependem de produtos brasileiros, e cerca de 3,9 mil companhias dos Estados Unidos investem no Brasil.
Trump ignora diplomacia - Apesar dos apelos diplomáticos, o presidente Donald Trump desdenhou das críticas e, ao ser questionado sobre a sobretaxa, respondeu: “(Fiz) porque eu posso fazer isso. Ninguém mais conseguiria”. A declaração gerou ainda mais inquietação entre empresários brasileiros, especialmente diante da magnitude dos possíveis prejuízos para exportadores de diferentes setores.
Governo reúne 56 lideranças e promete evitar retaliação precoce - O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, liderou os dois encontros do dia: pela manhã com 37 representantes da indústria e, à tarde, com 19 lideranças do agronegócio. Participaram também os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
Alckmin tranquilizou o setor ao afirmar que o governo federal não adotará nenhuma medida de retaliação antes de 1º de agosto — data prevista para o início da vigência da tarifa imposta por Trump. “O governo vai trabalhar para resolver e avançar nos próximos dias”, afirmou o vice-presidente. Segundo ele, a meta é resolver o impasse até o fim do mês, sem pedir a extensão do prazo.
Indústria alerta para impacto e defende extensão de 90 dias - Representantes da indústria ressaltaram que não há como substituir o mercado norte-americano no curto prazo, e que construir alternativas exigiria anos. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, alertou sobre o risco de eliminação de até 110 mil postos de trabalho se o tarifaço for mantido: “estamos falando aqui só de perde-perde. Não tem ganha-ganha”.
Alban também defendeu que o Brasil mantenha uma postura serena. “O Brasil não pretende ser reativo intempestivamente (...) não vai se precipitar para retaliar com ações econômicas”, declarou. A CNI e outras entidades sugeriram ao governo solicitar uma extensão de 90 dias no prazo para início da vigência das tarifas, caso as negociações não avancem até agosto.
Diplomacia econômica como estratégia - Além do diálogo institucional, foi discutida a possibilidade de enviar uma nova carta às autoridades norte-americanas e de mobilizar empresas brasileiras para interceder junto a seus parceiros comerciais nos EUA. A ideia é ativar uma pressão direta de fornecedores, compradores e executivos norte-americanos contrários à tarifa.
O presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, expressou confiança em um desfecho positivo: “temos absoluta confiança que os mais de 200 anos de boa relações diplomáticas e comerciais não vão se romper dessa maneira”.
Durante o encontro, Alckmin enfatizou que é necessário “separar questões de natureza jurídica” da esfera comercial. “A separação dos Poderes é pedra fundamental do Estado de direito (...) em relação à questão das tarifas, trabalharmos para revertê-las. Elas são absolutamente inadequadas”, disse, em referência à justificativa de Trump, que atribuiu a medida ao tratamento do Judiciário brasileiro a Jair Bolsonaro (PL).
Empresariado evita politização e reforça foco no comércio - Representantes da indústria, como Fernando Pimentel, da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), afirmaram que o debate político sequer foi abordado na reunião. "Ficou decidido que é preciso mostrar que não faz sentido o Brasil ter a maior taxa sobre seus produtos vendidos nos EUA. Outra recomendação consensual na reunião é ‘evitar falatório’ e buscar pontos de convergência entre os dois países, sempre com foco no comercial, usando a frieza da diplomacia", disse.
A Embraer, uma das empresas mais afetadas, estima que o custo de produção por avião pode subir em R$ 50 milhões com a nova tarifa. O presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, reiterou: a questão econômica se sobrepõe à questão política.
Mesmo diante do alinhamento geral, alguns empresários demonstraram receio de que setores considerados menos prioritários sejam os mais prejudicados. Para alguns segmentos, uma tarifa reduzida para 10% já seria considerada uma vitória; para outros, o impacto já é irreversível.
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