Brasil busca novos mercados para o agro após tarifaço de Trump
Com tarifa de 50% anunciada pelo presidente dos EUA, setores do agronegócio nacional correm para redirecionar exportações de café, carne, etanol e açúcar
247 - A escalada protecionista do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou uma onda de preocupação no agronegócio brasileiro. A taxação de 50% sobre os produtos brasileiros anunciada pela Casa Branca — com entrada em vigor prevista para 1º de agosto — deve levar exportadores nacionais a redirecionar suas vendas para outros mercados. A notícia foi divulgada pelo portal G1 nesta quarta-feira (16).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, os EUA são o segundo maior destino das exportações do Brasil, atrás apenas da China. Com a nova barreira tarifária, produtos como carne bovina, café, suco de laranja, etanol e açúcar podem perder competitividade no mercado norte-americano, o que exige uma reconfiguração urgente da estratégia de exportação brasileira.
Café: China, Índia e Austrália podem ampliar compras
O café, uma das principais commodities exportadas pelo Brasil, pode ter sua rota comercial redesenhada. Os Estados Unidos compram atualmente 16% de todo o café exportado pelo país, sendo o maior cliente do produto brasileiro no mundo.
De acordo com o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, há potencial para crescimento em mercados asiáticos e na Oceania. “A China importou 1,2 milhão de sacas de café do Brasil, mas consome 6,3 milhões. Então, existe espaço em mercados importantes”, explicou.
Para o analista Fernando Maximiliano, da consultoria StoneX Brasil, a tarifa pode alterar profundamente os fluxos globais do setor. Com os EUA buscando novos fornecedores, como Honduras, Guatemala e Colômbia, abre-se a possibilidade de o Brasil ampliar sua presença na União Europeia, hoje abastecida por esses países. “Eu apostaria, no curto e médio prazo, na mudança de fluxos entre os mercados que já são parceiros nesse mundo do café”, afirmou.
Carne bovina: outros países podem assumir o lugar dos EUA
A carne bovina também será afetada diretamente. Os EUA respondem por 12% das exportações brasileiras desse produto, ficando atrás apenas da China.
Segundo Fernando Henrique Iglesias, analista do Safras & Mercados, os frigoríficos brasileiros já estão se organizando para redirecionar os produtos. “A nossa sorte é que tem mais de 100 países comprando carne do Brasil”, disse.
Ele destaca cinco mercados com maior potencial para substituir os norte-americanos: México, Egito, Canadá, Chile e Emirados Árabes Unidos. Além disso, a recente reabertura do mercado do Vietnã e a instalação de um escritório da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) na China fortalecem a posição do Brasil no continente asiático.
Suco de laranja: setor sem alternativas viáveis
O impacto mais grave, contudo, recai sobre o suco de laranja. Com os EUA representando 41% das exportações do produto brasileiro, o setor não vê alternativas para absorver essa demanda.
“É impossível redirecionar. Não existe estrutura de recebimento de produto, linhas de envase e demanda. Não tem como absorver esse mercado”, afirmou Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).
Segundo ele, mesmo a ampliação de vendas para a União Europeia seria prejudicial, já que derrubaria os preços no mercado internacional. “Não existem outros mercados para serem explorados”, lamentou.
Etanol: Coreia do Sul e Japão são alternativas em expansão
O etanol brasileiro também sofrerá os efeitos da tarifa. Os EUA são o segundo maior destino do produto, com 16% das exportações, atrás apenas da Coreia do Sul.
Para Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), o país já vinha se preparando para diversificar seus parceiros comerciais. Ele aponta a Coreia do Sul e o Japão como as apostas mais promissoras.
"As exportações efetivas de etanol brasileiro para o Japão devem começar dentro de poucos anos, quando a mistura na gasolina de fato acontecer", afirmou Gussi, referindo-se à nova política energética japonesa que prevê a adição de etanol na gasolina.
Açúcar: Oriente Médio e Norte da África na mira
Apesar de os EUA representarem apenas 2,8% das exportações brasileiras de açúcar — ocupando a 14ª posição entre os destinos — o setor também busca alternativas.
De acordo com Marcelo Di Bonifacio Filho, analista da StoneX Brasil, China e Indonésia, principais compradoras do produto brasileiro, devem ampliar suas aquisições. Países do Oriente Médio, como os Emirados Árabes, são vistos como opções viáveis por sua estrutura de refino e reexportação.
Já no Norte da África, a Argélia se destaca como quarto maior comprador do Brasil. “Eles compram [açúcar bruto] para refinar e reexportar para regiões próximas”, afirmou o analista.
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