Tarcísio adota o discurso de Trump sobre narcotráfico
Após chacina com 121 mortos no Rio, governador de São Paulo chama facções de “terroristas
247 – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicou nesta quinta-feira (30) uma mensagem nas redes sociais que marca uma guinada retórica para o endurecimento penal, em meio à comoção nacional causada pela chacina no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro — a operação policial mais letal da história do estado, com 121 mortos confirmados.
“Criminoso não é vítima da sociedade. O Estado precisa cuidar do cidadão de bem, de quem trabalha e faz este país crescer. É hora de endurecer as leis. As facções e organizações que tanto mal causam à população devem ser reconhecidas pelo que realmente são: terroristas”, escreveu Tarcísio.
A postagem, que ecoa o discurso adotado por Donald Trump nos Estados Unidos — que também defende tratar o narcotráfico como terrorismo —, foi publicada no mesmo dia em que moradores da Penha retiraram 72 corpos de uma área de mata, um dia após a megaoperação da Polícia Militar e da Polícia Civil no conjunto de favelas apontado pelas autoridades como reduto do Comando Vermelho.
Chacina histórica e reação das autoridades
Segundo testemunhas, os corpos foram encontrados na Serra da Misericórdia, local de intensos confrontos na noite anterior. As vítimas foram levadas para a Praça São Lucas, uma das principais vias da região. O ativista Raull Santiago, que ajudou na retirada dos corpos, relatou nas redes sociais que “mais lonas foram esticadas para dar conta dos corpos que estão sendo encontrados”.
A operação tinha como objetivo cumprir 100 mandados de prisão contra suspeitos ligados ao crime organizado, incluindo Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, apontado como líder da facção nas ruas. A ação também deixou quatro policiais mortos e nove feridos.
A Defensoria Pública do Rio denunciou violações de direitos humanos e o governo federal anunciou o envio de uma comitiva ao estado. O presidente Lula convocou uma reunião de emergência com a cúpula da Segurança Pública, e o governador Cláudio Castro solicitou a transferência de dez líderes presos para presídios de segurança máxima — pedido atendido pelo governo.
Repercussão internacional e apelos por investigação
A tragédia ganhou repercussão internacional. O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos afirmou estar “horrorizado com a operação policial em andamento nas favelas do Rio de Janeiro” e exigiu uma investigação rápida e independente. Já a Human Rights Watch defendeu que “o Rio precisa de uma nova política de segurança pública, que pare de estimular confrontos que vitimizam moradores e policiais”.
Em Brasília, a Câmara dos Deputados decidiu antecipar a análise da PEC da Segurança, enquanto o episódio reacende o debate sobre a militarização das políticas de combate ao crime e a necessidade de estratégias que priorizem a inteligência policial e a prevenção social — em vez do confronto armado.
Radicalização do discurso político
A fala de Tarcísio reflete uma radicalização discursiva que remete à retórica de líderes de extrema direita como Trump, que defende a classificação de cartéis de drogas como organizações terroristas. Especialistas em segurança pública avaliam que esse tipo de discurso pode agravar a violência institucional e legitimar práticas de extermínio, sobretudo em comunidades pobres e racializadas.
Em meio ao luto e às denúncias de violações, o tom adotado pelo governador paulista reforça a divisão política sobre o modelo de segurança no país — entre o endurecimento penal e as políticas de direitos humanos —, reacendendo um debate urgente sobre o papel do Estado nas favelas e o valor da vida nas periferias brasileiras.


