Reunião ministerial: Lula critica gastos militares da União Europeia e cobra reforma da ONU
Presidente também reforçou que Brasil não será tratado como “subalterno” perante os EUA e condenou o genocídio na Faixa de Gaza
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta terça-feira (26) a segunda reunião ministerial de 2025, no Palácio do Planalto, com um discurso em defesa da soberania nacional e da necessidade de mudanças na governança internacional. O encontro serviu para alinhar estratégias do governo e avaliar políticas públicas em curso, em meio a pressões externas, como a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a parte das exportações brasileiras.
“Somos um país soberano. Temos uma Constituição, uma legislação, e quem quiser entrar nesses 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo, nas nossas florestas, têm que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação”, afirmou Lula, ressaltando que o Brasil está disposto a negociar, mas “não a ser tratado como subalterno”.
Tarifas dos EUA e programa Brasil Soberano
O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, apresentou dados sobre as negociações em curso com Washington. Segundo ele, 41,3% das exportações brasileiras foram excluídas da tarifa de 50%, incluindo aeronaves, suco de laranja e ferro-liga. Outros 23,2% estão sujeitos a uma taxação global unificada, enquanto 35,6% — que incluem alimentos como café, carne e frutas — seguem sob sobretaxa norte-americana.
Para enfrentar os impactos, o governo lançou o programa Brasil Soberano, com medidas de crédito, apoio às exportações e proteção de empregos. O pacote destina R$ 40 bilhões — R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações e R$ 10 bilhões do BNDES — a linhas de financiamento e incentivos ao setor produtivo.
Missão ao México
Ainda nesta terça-feira, Alckmin embarca para o México à frente de uma comitiva de ministros e quase 100 empresários. A agenda inclui encontros com a presidenta Claudia Sheinbaum e líderes empresariais. “Temos possibilidades na área agrícola, de biocombustíveis, de aeronaves, energia e indústria”, disse Alckmin. Lula afirmou esperar que a missão seja “um grande sucesso” e fortaleça a cooperação entre as duas maiores economias da América Latina.
Conflitos globais e críticas à ONU
Na reunião, Lula também abordou a guerra na Ucrânia e o agravamento da crise humanitária em Gaza. Criticou o aumento de gastos militares na União Europeia e a falta de ação internacional diante do genocídio na Faixa de Gaza. “Acho que estão apenas aguardando o momento em que tenham coragem de anunciar o fim dessa guerra entre Rússia e Ucrânia. Acho que a preocupação maior de todos agora é quem vai ficar com a dívida da guerra. A União Europeia aprovou 800 bilhões de euros de rearmamento de todos os países da União Europeia, enquanto a gente estaria precisando de dinheiro para acabar com a fome ou para, quem sabe, manter as florestas em pé”, ponderou o presidente.
“O genocídio continua na Faixa de Gaza. Todo dia mais gente morre, todo dia crianças aparecem esqueléticas atrás de comida e são assassinadas”, disse.
O presidente voltou a cobrar a democratização do Conselho de Segurança da ONU. Para ele, os organismos multilaterais precisam ter poder real de intervir em guerras e violações de direitos humanos. “É por isso que estamos há muito tempo reivindicando mudança na governança da ONU, para que tenha alguém que possa parar um genocídio, parar uma guerra”, concluiu.