Mauro Vieira fala em “perspectiva de diálogo” entre Lula e Trump e reafirma soberania
Chanceler afirmou que eventual acordo com os EUA não incluirá concessões políticas e ressaltou posição independente do país
247 - Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (1º), o chanceler Mauro Vieira destacou que o Brasil manterá sua postura de não misturar comércio e política nas tratativas com os Estados Unidos. O ministro previu que, caso se consolide a abertura de diálogo bilateral, um acordo entre os dois governos poderá ser alcançado em aproximadamente 210 dias. As informações são do jornal O Globo.
A expectativa do governo é de que um encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aconteça nas próximas semanas. A aproximação é vista em Brasília como sinal de mudança de postura da Casa Branca, especialmente diante das sanções recentes aplicadas ao Brasil. Entre elas, a sobretaxa de 50% sobre determinados produtos e a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e sua esposa, Viviane.
Defesa da soberania e críticas às sanções
Vieira afirmou que a abertura para diálogo não significará concessões em temas que afetem a independência nacional. “Há uma perspectiva de diálogo, mas sem jamais abrir mão da disposição naquilo que não confrontar com nossa soberania. Permaneceremos atentos”, declarou o chanceler.
O ministro classificou como “inaceitáveis” as medidas de caráter extraterritorial que atingem cidadãos brasileiros e limitam operações comerciais e financeiras no país. Ele também ressaltou que decisões políticas vinculadas a processos judiciais no Brasil não devem interferir em relações entre estados soberanos.
Vieira fez referência ao discurso de Lula na ONU, na semana passada, quando o presidente reafirmou que o Brasil é uma nação independente e livre de qualquer tutela externa.
Expectativas para a reunião Lula-Trump
Segundo interlocutores do governo, há possibilidade de uma conversa telefônica entre Lula e Trump antes da reunião presencial, que deve ocorrer no fim de outubro, na Malásia, durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Será a primeira vez que um presidente brasileiro participará do encontro, que reúne países como Indonésia, Filipinas, Vietnã e Singapura.
O gesto de Trump, que mencionou publicamente a intenção de se encontrar com Lula após o discurso brasileiro na ONU, surpreendeu e trouxe momentâneo alívio ao Palácio do Planalto. Até a semana passada, cidadãos brasileiros permaneciam sob sanções relacionadas ao julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Entre os principais atingidos pelas medidas estavam Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane, que enfrentam restrições para manter relações comerciais e financeiras com empresas americanas.