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Aproximação entre Lula e Trump é "passo importante", diz Alckmin

“O Brasil não é problema para os EUA. É a solução”, afirma o vice-presidente

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vice-presidente Geraldo Alckmin (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )

247 - O vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), classificou como um “passo importante” a aproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. A declaração foi dada nesta sexta-feira (26), em São Carlos (SP), após a inauguração do novo Hangar no Centro de Manutenção de Aeronaves da LATAM.

Alckmin defende parceria estratégica

Alckmin destacou a relevância econômica da relação entre os dois países. “O Brasil tem 201 anos de amizade e parceria com os EUA. O Brasil não é problema para os EUA, ele é a solução”, afirmou.

O vice-presidente ressaltou ainda o saldo positivo da balança comercial norte-americana no Brasil: “Se você pegar os países do G20, os EUA só têm superávit na balança comercial de três países: Reino Unido, Austrália e Brasil. E esse superávit é crescente. Dos dez produtos que eles mais exportam, oito não pagam imposto, zero".

Para ele, o gesto entre Lula e Trump abre caminho para novos avanços. “Foi dado um passo importante, agora vamos ter os novos passos para poder avançar ainda mais e fazer um ganha-ganha, que é o que deve ser comércio exterior. Eu exporto mais, você exporta mais para mim. O que ganha é a sociedade, você estimula a competitividade".

Negociações discretas e resistência bolsonarista

O brevíssimo encontro entre Lula e Trump, realizado na terça-feira (23) durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, foi antecedido por semanas de tratativas diplomáticas discretas. Segundo o Estado de S. Paulo, ministros e diplomatas dos dois países se reuniram em sigilo para pavimentar a reaproximação entre Brasília e Washington, contrariando a versão oficial de que a reunião teria sido “de surpresa”.

A operação diplomática envolveu diretamente Alckmin e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Em 11 de setembro, o vice-presidente conversou por videoconferência com Jamieson Greer, representante comercial dos EUA. Dias depois, Vieira recebeu no Rio de Janeiro Richard Grenell, enviado especial da Casa Branca, em encontro não registrado oficialmente.

Segundo a apuração, grupos bolsonaristas nos Estados Unidos tentaram sabotar as negociações. O deputado Eduardo Bolsonaro, em articulação com o movimento MAGA, pressionou contra o diálogo. Apesar disso, os governos mantiveram o canal aberto, cientes do impacto político da condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, a 27 anos de prisão.

O dia do encontro em Nova York

Na sede da ONU, Trump chegou antes da reunião e assistiu ao discurso de Lula em defesa da soberania nacional. Pouco depois, os dois se encontraram em uma sala reservada, onde trocaram cumprimentos e conversaram.

“Encontrei Lula e nos abraçamos. Eu gostei dele, e ele gostou de mim. Vamos nos encontrar na semana que vem”, disse Trump após o encontro, em tom cordial, embora tenha voltado a criticar a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Diplomacia e setor privado em sintonia

Nos bastidores, a diplomacia brasileira buscou reduzir desconfianças de Washington. Mauro Vieira sinalizou que o Brasil não pretende adotar posições de confronto, citando a postura equilibrada no BRICS, o afastamento em relação a Nicolás Maduro e a recusa em aderir à Nova Rota da Seda da China.

Além do governo, o empresariado também teve papel relevante. A US Chamber e a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos atuaram para reforçar a aproximação, enquanto empresários brasileiros, como Joesley Batista, da JBS, mantiveram contatos com autoridades americanas para preservar os canais de comércio.

Estratégia de silêncio e gesto simbólico

O encontro não foi registrado em agendas oficiais, tampouco divulgado em notas ou imagens. O sigilo buscava evitar reações negativas de setores contrários à reaproximação. A encenação da “surpresa” em Nova York foi, na verdade, o resultado de semanas de negociações cuidadosamente articuladas.

Para Alckmin, o simbolismo do gesto não deve ser subestimado. “O empresariado brasileiro se mobilizou para fazer essa aproximação, junto com o governo e com o empresariado americano. Acho que há espaço para um bom entendimento”, declarou.

O aperto de mãos entre Lula e Trump foi a face visível de um processo diplomático silencioso, mas decisivo. Embora ainda reste avaliar se a aproximação resultará em avanços concretos, o gesto indica uma mudança no tom das relações bilaterais e abre uma nova etapa no diálogo entre Brasil e Estados Unidos.

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