Thiago Ávila e outros três brasileiros sequestrados por Israel estão em greve de fome
Ativistas da flotilha humanitária denunciam maus-tratos e falta de acesso a medicamentos; Israel mantém prisões arbitrárias em meio ao genocídio
247 – O Itamaraty realizará nesta segunda-feira (6) uma nova visita aos 13 brasileiros presos em Israel, integrantes da flotilha humanitária Global Sumud, que tentava levar ajuda à população sitiada da Faixa de Gaza. O grupo está detido na prisão de Ktzi'ot, em pleno deserto de Negev, perto da fronteira com o Egito, sob condições consideradas desumanas.
A informação é do Valor Econômico, que relata ainda que não há previsão de libertação dos ativistas brasileiros — quatro deles, Thiago Ávila, João Aguiar, Ariadne Telles e Bruno Gilca, entraram em greve de fome em protesto contra as condições carcerárias e a omissão de autoridades israelenses.
A missão, composta por dezenas de embarcações e mais de 400 ativistas de diversos países, partiu de Barcelona no fim de agosto, levando alimentos, remédios e suprimentos médicos ao povo palestino — vítima de um bloqueio cruel e de uma ofensiva militar que já é denunciada internacionalmente como genocídio. A flotilha foi interceptada pela marinha israelense antes de chegar ao seu destino, e os participantes foram submetidos a prisões e interrogatórios arbitrários.
Greve de fome e ausência de atendimento médico
Segundo comunicado da organização da flotilha, divulgado neste domingo (5), os brasileiros estão privados de tratamento médico e de medicamentos essenciais. Thiago Ávila anunciou em audiência com autoridades israelenses que não beberia nem água até que todos os presos recebessem os cuidados necessários. O gesto dramático simboliza a resistência pacífica de ativistas que arriscaram a própria liberdade para denunciar a brutalidade do cerco imposto a Gaza.
A organização jurídica Adalah, que presta assistência aos detidos, relatou casos de maus-tratos e abusos físicos. Vários presos disseram ter sido interrogados por agentes não identificados, vendados e algemados por longos períodos. Uma mulher relatou ter sido forçada a retirar o hijab (véu islâmico) e recebeu apenas uma camisa como substituição — um ato de humilhação deliberada e violência simbólica.
Apelo a Lula e à comunidade internacional
Mara Conte Takahashi, mãe da vereadora de Campinas Mariana Conti (PSOL), também presa, fez um apelo para que o presidente Lula se pronuncie publicamente sobre o caso e cobre a libertação dos brasileiros.
“Ativistas de países europeus onde os presidentes se pronunciaram oficialmente já foram deportados e retornaram à Europa. Peço ao presidente Lula que se pronuncie oficialmente”, disse à Folha de S.Paulo.
O ativista Nicolas Calabrese, libertado no sábado (4) após ser deportado, descreveu o tratamento violento dado pelos agentes israelenses:
“Passamos mais de 20 horas sem alimentação durante a interceptação e sofremos uma humilhação muito grande quando chegamos ao porto. Apontaram armas para nós e nos obrigaram a permanecer com as cabeças abaixadas.”
Calabrese confirmou que a ativista sueca Greta Thunberg foi isolada do grupo e forçada a vestir uma bandeira de Israel.
“Eles faziam piadas e tiravam fotos enquanto a provocavam. Mas todos sofremos maus-tratos”, contou.
Israel nega as denúncias
Em resposta, o governo de Benjamin Netanyahu negou todas as acusações e afirmou, em nota enviada à agência Reuters, que “as acusações da Adalah são mentiras completas”. Segundo Tel Aviv, “todos os detidos tiveram acesso a água, comida, banheiros e advogados”.
No entanto, relatos de dezenas de ativistas de diferentes nacionalidades — agora fora de Israel — reforçam o quadro de violência institucionalizada, censura e perseguição a defensores dos direitos humanos. A flotilha, que tinha como objetivo romper simbolicamente o bloqueio à Gaza e expor a dimensão do genocídio praticado pelo Estado de Israel contra o povo palestino, acabou transformando-se em um novo exemplo da repressão contra quem ousa defender a vida.
Um ato de coragem e solidariedade
Os ativistas brasileiros da Global Sumud são parte de uma longa tradição de solidariedade internacional com o povo palestino. Suas prisões arbitrárias e a greve de fome de quatro deles escancaram o autoritarismo e a violência sistemática de um Estado que insiste em silenciar vozes solidárias e criminalizar ações humanitárias.
Enquanto o mundo testemunha a destruição de Gaza, a coragem de pessoas como Thiago Ávila, Ariadne Telles, João Aguiar e Bruno Gilca se torna um lembrete poderoso de que ainda há quem coloque a vida e a justiça acima do medo.