Chanceler de Moçambique exige devolução de bens e soberania econômica: “Queremos ser africanos”
Maria Manuela Lucas afirma em Moscou que reparações devem ir além de símbolos e incluem independência econômica
247 - Em declaração contundente feita nesta terça-feira (23) durante visita oficial a Moscou, a ministra das Relações Exteriores de Moçambique, Maria Manuela Lucas, defendeu que a África deve recuperar não apenas os artefatos culturais saqueados por potências coloniais europeias, mas também sua dignidade, soberania e capacidade de decidir seus próprios rumos econômicos. A informação é da agência estatal russa RT.
Após se reunir com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, Lucas destacou que os efeitos da colonização não podem ser sanados apenas por gestos simbólicos e que os países africanos precisam de mudanças estruturais. “Tudo que foi levado da África deve ser devolvido ao continente”, afirmou. “Não estou falando apenas de artefatos tangíveis, [mas também] de uma política que leve à nossa independência econômica... Queremos nos sentir africanos, trabalhar como africanos, ser africanos.”
A chanceler moçambicana enfatizou a necessidade de que a participação da África na economia global não se limite à exportação de matérias-primas, e sim que se invista em produção com valor agregado nos próprios países africanos.
Repatriação cultural e reconstrução identitária
A fala de Maria Manuela Lucas ocorre após a solicitação formal feita por Moçambique em maio para a devolução de aproximadamente 800 objetos culturais retidos em museus europeus. Entre os itens requisitados estão máscaras tradicionais, esculturas e arquivos rituais retirados durante o período colonial. Segundo a ministra da Educação e Cultura do país, Samaria Tovela, a restituição dessas peças é fundamental para a reconstrução da identidade cultural moçambicana.
Moçambique conquistou sua independência de Portugal em 1975, após uma luta armada de dez anos liderada pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Como outras nações africanas que emergiram da dominação colonial, o país tem reiterado pedidos por reparações e pelo retorno de bens culturais apropriados por colonizadores.
Exemplo recente: arte africana devolvida pela Holanda
A demanda moçambicana se soma a um movimento mais amplo em curso no continente. Em junho deste ano, a Holanda devolveu 119 artefatos à Nigéria — entre eles, esculturas humanas e animais, placas, regalias reais e um sino histórico — saqueados durante o domínio colonial, há mais de um século.
Com essas iniciativas ganhando força, cresce também a expectativa de que a restituição de bens culturais seja apenas o ponto de partida para um processo mais profundo de revalorização da África no cenário global — tanto no campo simbólico quanto no econômico.
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