Haddad diz que Tarcísio tem compromisso com a desigualdade e a elite e cobra posicionamento sobre super-ricos
Ministro da Fazenda afirma que presidenciáveis devem se manifestar sobre a reforma da renda
247 - Em entrevista ao UOL nesta quarta-feira (27), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fez críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como provável candidato contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026. Haddad afirmou que o posicionamento de Tarcísio contrário à taxação dos super-ricos representa um alinhamento com a elite econômica brasileira e cobrou que o governador se pronuncie sobre a proposta da chamada “reforma da renda”.
Segundo o ministro, setores do mercado financeiro e da elite nacional resistem a agendas de combate à desigualdade, o que os leva a buscar candidatos que defendam pautas conservadoras. “A elite não vai de Lula. A elite brasileira não consegue assimilar o presidente. [A Faria Lima] não vai abraçar o Lula. Então eles vão ter que viabilizar outro candidato. A elite tem problema com a agenda progressista. Estamos entre os dez países mais desiguais do mundo, nós perdemos para 47 dos 54 países da África em desigualdade”, disse Haddad.
O ministro destacou que Tarcísio já se posicionou contra a taxação dos mais ricos e relacionou isso à necessidade de apoio político. “O Tarcísio já falou que é contra taxar o super-rico. Talvez se ele não falasse isso não teria o apoio desse pessoal. Mas, para uma pessoa se candidatar disposta a não querer olhar no espelho da desigualdade brasileira, é uma opção”.
Haddad ponderou, no entanto, que não acredita em uma campanha de “baixaria” por parte do governador, apesar da possibilidade de aliados recorrerem a estratégias de desinformação. “Não acredito que ele tenha, a julgar pelo comportamento dele até aqui, um espírito de fazer uma eleição de baixaria. Embora ali o entorno, tem muita gente ali que vai usar fake news, impulsionamento de coisas… O problema maior, o meu desejo, é que nós possamos jogar luz sobre o que está em disputa, para que a opinião pública possa se posicionar em relação a ideias”.
Ao abordar a reforma da renda, que prevê a taxação de super-ricos e alívio tributário para trabalhadores e consumo, o ministro ressaltou que a posição de potenciais candidatos à Presidência é crucial para o debate público. “Agora vamos votar [a reforma] da renda. Tem gente querendo não taxar os super-ricos. Eu acho, por um lado, positivo que esse tipo de opinião venha a público, que a pessoa fale isso. Não sei se algum jornalista perguntou para o Tarcísio o que ele acha desse projeto. Mas um candidato a presidente deveria se manifestar sobre isso, assim como ele se manifestou sobre a reforma tributária e apoiou, contrariando o Bolsonaro”.
Haddad recordou que Tarcísio apoiou a reforma tributária, mesmo sob resistência de Jair Bolsonaro (PL), mas ressaltou que o novo projeto enfrenta interesses mais sensíveis. “Aquela reforma não feria certos pilares da economia brasileira, não mexia com interesses de classe, a não ser na questão da cesta básica. Mas agora, na reforma da renda, mexe. Então seria interessante saber o que pensam os presidenciáveis, não apenas o Tarcísio. Eles vão ajudar a votar a favor? Vão trabalhar contra? Isso diz muito para a sociedade brasileira”.
O ministro concluiu destacando o apoio popular à proposta, citando pesquisas que mostram ampla aceitação. “80% da população é a favor desse projeto. Todas as pesquisas de opinião dão entre 70% e 80% de aprovação. Não era importante um presidenciável vir a público e dizer o que pensa? O Congresso vai votar”.
As declarações ampliam a pressão sobre Tarcísio de Freitas e outros possíveis candidatos ao Planalto, colocando a desigualdade social e a tributação sobre os super-ricos no centro do debate político que deve marcar a corrida presidencial de 2026.