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Direita tenta recuperar protagonismo após operação no Rio e se une em apoio a Cláudio Castro

Governadores de oposição a Lula usam a ação policial mais letal da história para reforçar discurso de segurança e reaglutinar base conservadora nas redes

O governador do Rio, Cláudio Castro, fala à imprensa com os secretários de Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes, de Polícia Civil, Felipe Curi, e de Segurança Pública, Victor dos Santos, após a morte de três pessoas baleadas na Avenida Brasil, próximo do Complexo de Israel, onde acontecia uma operação da Polícia Militar, na Zona Norte (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

247 – A operação policial que deixou ao menos 121 mortos no Rio de Janeiro, a mais letal da história do país, reacendeu o discurso de políticos de direita e reorganizou a base conservadora, que vinha fragilizada nas últimas semanas. 

Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, governadores cotados para disputar a Presidência em 2026 contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás — manifestaram apoio à operação e aproveitaram o episódio para atacar o governo federal.

Nas redes sociais, o campo conservador teve desempenho superior ao progressista. Dados do Instituto Democracia em Xeque apontam que, entre anteontem e ontem, perfis de direita somaram 57 milhões de interações em cinco plataformas (Facebook, Instagram, X, YouTube e TikTok), contra 17 milhões do campo progressista. O levantamento também identificou 872 postagens de perfis conservadores, o dobro do número de publicações de perfis ligados à esquerda.

Reorganização da direita após revés político

O fortalecimento digital da direita ocorre após uma sequência de derrotas políticas, como a rejeição da chamada PEC da Blindagem no Senado, e o impacto negativo da reunião entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vista como um revés para o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.

Segundo o diretor-executivo do Instituto Democracia em Xeque, Fabiano Garrido, a megaoperação no Rio serviu como ponto de inflexão:

 “A operação, marcada pela altíssima letalidade, se transformou nas redes em um campo de batalha narrativo. Para a direita, é uma tentativa de retomar o protagonismo no debate público, após dados e ações positivas para o governo federal.”

Entre as postagens de maior alcance está a do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que chegou a 17 milhões de visualizações no Instagram ao classificar a ação como “a maior faxina da história do Rio”. O parlamentar também acusou a esquerda de “defender a soberania das facções criminosas”, em contraponto ao discurso do governo Lula de fortalecimento da soberania nacional, associado por analistas à recuperação de popularidade do presidente.

Outros nomes, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), resgataram antigas falas de Lula, nas quais ele se referiu a traficantes como “vítimas dos usuários” — declaração pela qual o presidente depois se desculpou. “Diferente do Lula, nós entendemos que essas facções são grupos terroristas”, afirmou o senador.

União de governadores e disputa por protagonismo

A crise também serviu para aproximar governadores de oposição. Cláudio Castro (PL), do Rio, recebeu o apoio de seus pares, que chegaram a propor ações conjuntas na área de segurança. Em uma reunião virtual, participaram Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Jorginho Mello (PL-SC) e Mauro Mendes (União-MT).

O secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite (PP), disse ter sugerido que Tarcísio disponibilize parte do efetivo paulista para patrulhar o Rio. “Se houver necessidade de apoio para patrulhamento em outras áreas, isso pode ser feito”, afirmou. Caiado e Jorginho também declararam estar dispostos a enviar forças de segurança estaduais.

Em entrevista coletiva, Cláudio Castro agradeceu a solidariedade e disse ver o momento como “um novo ciclo de união contra a criminalidade”:

 “Vejo esse como o início de um novo momento em que poderemos livrar os fluminenses, mas também os brasileiros, da criminalidade.”

Críticas da base governista

No campo governista, parlamentares e ministros reagiram às declarações dos governadores. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), cobrou que Castro explique sua oposição à PEC da Segurança, proposta do Ministério da Justiça que pretende integrar forças estaduais e federais no combate ao crime.

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reforçou a urgência de retomar o debate:

 “Os episódios violentos no Rio ressaltam a urgência da aprovação da proposta no Congresso.”

Enquanto a direita tenta consolidar sua narrativa de “tolerância zero” com o crime, o Palácio do Planalto ainda avalia medidas para enfrentar a crise sem recorrer a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A disputa pelo controle do discurso da segurança pública promete se tornar um dos eixos centrais da corrida presidencial de 2026.

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