Hugo Motta critica Haddad, diz que país não aguenta mais imposto e vê "recado da sociedade" em decisão da Câmara
Presidente da Câmara ecoa discurso antipolítica fiscal do governo, mas ignora papel do Congresso em manutenção de privilégios
247 – Em mais um gesto de distanciamento da equipe econômica do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), adotou um tom populista ao comentar a aprovação do regime de urgência para o projeto que visa derrubar o novo decreto sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Nas redes sociais, Motta afirmou que a decisão do plenário é um "recado claro da sociedade", tentando capitalizar o desgaste do governo com a opinião pública e se colocar como porta-voz de um suposto clamor popular contra aumentos de impostos.
A manifestação foi feita em publicação na plataforma X (antigo Twitter). “346 votos. Um recado claro da sociedade — a Câmara foi apenas o veículo que ecoou essa demanda: o país não aguenta mais aumento de imposto. Toda essa discussão sobre as contas não é sobre quem mora na cobertura ou no andar de baixo. É sobre todos nós que moramos no mesmo prédio”, escreveu o deputado.
A frase faz referência a uma declaração recente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que havia dito que a medida de compensação fiscal atingiria principalmente “donos de cobertura”, sugerindo impacto limitado a contribuintes de alta renda. Motta, no entanto, ignorou que o próprio Congresso tem sistematicamente se esquivado de pautas mais estruturantes da reforma tributária, preferindo discursos fáceis e votações simbólicas que pouco contribuem para a saúde fiscal do país.
Aprovação apressada e discursos contraditórios
Com a aprovação do regime de urgência, o projeto contra o decreto do IOF poderá ser analisado diretamente no plenário, sem necessidade de tramitação nas comissões temáticas. Na prática, isso acelera a votação, favorecendo movimentações de ocasião e dificultando o debate técnico. Apenas o PSB e a federação composta por PT, PCdoB e PV orientaram seus parlamentares contra a urgência. As demais lideranças, inclusive do governo, liberaram suas bancadas.
A crítica de Motta, no entanto, omite que parte significativa do desequilíbrio fiscal brasileiro se deve à manutenção de benefícios tributários e emendas parlamentares bilionárias aprovadas com apoio de sua base política. A Câmara que agora se coloca contra “mais impostos” é a mesma que, meses atrás, resistiu a medidas de ajuste sobre setores privilegiados e blindou segmentos que pressionam por mais recursos públicos.
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