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Governo intensifica ofensiva para barrar anistia aos golpistas

Gleisi Hoffmann convoca reunião e pressiona ministros do Centrão, enquanto Planalto traça estratégia para impedir votação do projeto

Gleisi Hoffmann (Foto: Gil Ferreira/Ascom-SRI)

247 - A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), marcou para esta segunda-feira (8) uma reunião com ministros de partidos do Centrão e de legendas aliadas no Palácio do Planalto. O encontro, segundo informações do jornal O Globo e da colunista Malu Gaspar, faz parte da estratégia do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para frear a tramitação do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro de 2023. A expectativa no Planalto é que a votação do pedido de urgência ocorra na quarta-feira (10), logo após o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no processo da trama golpista.

O governo avalia que impedir a aprovação da anistia se tornou uma “questão de honra”, especialmente após derrotas recentes para a oposição, como a eleição da presidência e da relatoria da CPMI do INSS. A avaliação interna é de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), está politicamente refém do Centrão e dificilmente conseguirá resistir à pressão para pautar o tema.

Pressão sobre ministros e articulação nos bastidores

Na reunião, Gleisi deve cobrar uma atuação mais incisiva de ministros ligados ao Centrão, como Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte), ambos da federação União-PP, além de Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), do Republicanos. Esses nomes são considerados cruciais porque pertencem a partidos diretamente envolvidos nas negociações em torno da anistia. O plano é deixar claro que, caso não trabalhem contra a proposta dentro de suas bancadas, esses ministros correm o risco de serem afastados do governo.

Apesar de o União Brasil ter histórico de votos majoritários contra pautas do Executivo, a preocupação maior do Planalto recai sobre o Republicanos, partido que tradicionalmente colabora com a agenda governista. A influência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem liderado articulações em defesa da anistia e é cotado como candidato à Presidência em 2026, é vista como um desafio adicional.

Argumentos jurídicos e políticos contra a anistia

O governo também atua em outra frente: convencer deputados do Centrão de que a votação do projeto trará desgaste político desnecessário, já que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), tem reiterado que não pautará uma proposta que beneficie Bolsonaro. Além disso, se a matéria avançar no Congresso, o presidente Lula deve vetá-la, e, em última instância, o Supremo Tribunal Federal poderá barrar a medida com base no entendimento de que crimes contra a democracia não são passíveis de perdão — posição já manifestada pelo ministro Luiz Fux no caso do indulto de Daniel Silveira.

Em conversas reservadas, líderes governistas lembram ainda que uma aprovação da anistia pode abrir espaço para efeitos colaterais, como a intensificação das investigações no Supremo sobre o uso de emendas parlamentares, muitas delas sob relatoria do ministro Flávio Dino. Paralelamente, a estratégia do Planalto inclui ocupar o espaço público com o argumento de que utilizar o instrumento da anistia para crimes golpistas é inconstitucional. Para isso, nomes como o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) e a própria Gleisi têm concedido entrevistas. Ministros do STF também vêm atuando discretamente em apoio a essa linha.

Cálculo da oposição e correlação de forças

A oposição calcula já ter cerca de 290 votos a favor do projeto na Câmara, número superior aos 257 necessários para aprová-lo. O requerimento de urgência, protocolado em abril pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), contou com o apoio de 262 deputados — sinal de que a base oposicionista tem força para levar a matéria adiante.

Na ocasião, o governo tentou convencer parlamentares a retirar suas assinaturas, ameaçando cortar cargos e atrasar emendas, mas a pressão não surtiu efeito. Um líder do Centrão chegou a ironizar a tentativa: “Vão tirar o que não deram? Tem gente que pediu cargos e não levou, e está com emendas atrasadas desde 2023”.

O Planalto reconhece que confrontar o governo tem se mostrado menos custoso para o Centrão do que enfrentar críticas de parte de seu eleitorado nas redes sociais. Para reverter esse cenário, a gestão Lula aposta em uma combinação de pressão política, ameaças de rearranjos ministeriais e a mobilização de argumentos jurídicos que deem legitimidade à sua ofensiva contra a anistia. O resultado desse embate, contudo, só ficará mais claro após o julgamento de Bolsonaro e a apresentação do texto final na Câmara.

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