Governistas reconhecem derrota em votação da anistia, criticam Motta e apostam em versão 'light'
Deputados da base do governo acreditam que a aprovação da urgência da anistia dá fôlego aos bolsonaristas
247 - Deputados da base governista reconheceram a derrota imposta nesta quarta-feira (17) com a aprovação, na Câmara, da urgência para a tramitação da proposta de anistia a condenados pelos atos golpistas, informa a Folha de S.Paulo.
A medida teve 311 votos favoráveis e 163 contrários, resultado de uma articulação entre o Centrão e partidos de direita. O avanço do texto abriu espaço para que setores bolsonaristas tentem ampliar o alcance da anistia, incluindo Jair Bolsonaro (PL) entre os beneficiados.
Frustração com Hugo Motta e temor de traição
Nos bastidores, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmam duvidar da capacidade do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de segurar o ímpeto da oposição e honrar compromissos feitos com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O entendimento firmado previa apenas a redução de penas, sem perdão amplo.
Embora não falem em rompimento, parlamentares governistas demonstram frustração com a postura de Motta, que foi decisiva para a aprovação da urgência. A votação contou inclusive com apoio de suplentes de ministros que hoje ocupam cargos no Executivo, como Celso Sabino (União-PA), André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE).
Acordo de bastidores e reação bolsonarista
Integrantes do Centrão vinham negociando discretamente um projeto alternativo que reduzisse penas e garantisse a Bolsonaro a possibilidade de cumprir prisão domiciliar, evitando um confronto direto com o STF.
Deputados governistas avaliam que, aprovada a urgência, o Centrão não deve mais apoiar o avanço da pauta, com receio de represálias do Supremo.
A vitória parcial foi celebrada por apoiadores de Bolsonaro. O ex-apresentador Paulo Figueiredo publicou nas redes: "Vocês foram heróis e derrotaram Gilmar [Mendes], Lula, Alexandre [de Moraes] e cia. Agora é lutar pelo texto. Anistia ampla, geral e irrestrita. E podem ter certeza: na semana que vem, a artilharia vai continuar daqui dando suporte a vocês da infantaria. Anistia já".
Pressão do STF e cenário no Senado
No STF, ministros acompanham de perto as negociações. Um líder governista avaliou, sob reserva, que a votação da anistia e da chamada PEC da Blindagem ofereceu ao tribunal um “prato cheio” para reagir, sobretudo em ações que tratam da transparência das emendas parlamentares.
No caso de uma eventual ruptura do acordo costurado entre Centrão e Supremo, a expectativa do governo é que o Senado funcione como barreira. Como dois terços da Casa estarão em disputa em 2026, governistas acreditam que os senadores resistirão a medidas com alto potencial de desgaste junto ao eleitorado, como a anistia irrestrita.
Base em alerta para 2026
A derrota da quarta-feira também soou como sinal de alerta para o Palácio do Planalto. Um deputado da base admitiu que o episódio expôs a fragilidade da articulação governista em ano pré-eleitoral, quando o Executivo conta com votações estratégicas no Congresso para pavimentar a campanha de reeleição de Lula em 2026.
Mesmo com ameaças de revisão de cargos e pressões diretas, o Planalto não conseguiu segurar parte de sua própria base, escancarando a instabilidade que marca a relação entre governo e Parlamento.