‘Descobrimos a ponta do iceberg. Agora vamos descobrir quem está na base’, diz Lewandowski
Ministro da Justiça afirma que operações contra o crime organizado miram sufocar financeiramente facções e desarticular estruturas de lavagem de dinheiro
247 – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, destacou nesta quinta-feira (28) que o governo federal pretende avançar em todos os níveis hierárquicos das organizações criminosas, após as grandes operações deflagradas em parceria com diversos órgãos públicos. A declaração foi dada em entrevista ao programa A Voz do Brasil, com informações da Agência Gov.
Segundo Lewandowski, os resultados obtidos com as operações Quasar, Tank e Carbono Oculto representam apenas o início de uma estratégia mais ampla. “Descobrimos a ponta desse iceberg e vamos, agora, descobrir a base, quem está na base”, afirmou o ministro, ressaltando que o objetivo central é sufocar financeiramente o crime organizado e desarticular sua rede de apoio empresarial e financeira.
Operações atingem coração do crime financeiro
As três operações miraram esquemas bilionários de lavagem de dinheiro, fraudes e sonegação fiscal.
- Quasar desarticulou fundos de investimento fraudulentos usados para movimentações ilícitas.
- Tank revelou um esquema que movimentou mais de R$ 23 bilhões no Paraná, envolvendo fraudes em postos de combustíveis e empresas de fachada.
- Carbono Oculto expôs um sistema bilionário de sonegação e lavagem por meio de importadoras, distribuidoras e fintechs que funcionavam como bancos paralelos.
Entre os bens e valores apreendidos ou bloqueados estão 141 veículos, duas embarcações, 192 imóveis, além de 1.600 caminhões, seis fazendas avaliadas em R$ 31 milhões e uma residência de R$ 13 milhões. Também houve bloqueio de 21 fundos financeiros e R$ 3,2 bilhões em bens.
Haddad: sufocar o crime é mais eficaz do que apenas prender
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que a estratégia é sufocar financeiramente as facções. “O crime se sofistica e o Estado tem que sofisticar a sua ação contra o crime. Porque se você prende uma pessoa, mas o dinheiro fica à disposição do crime, essa pessoa presa vai ser substituída por outra. E, em geral, o que fica preso é o personagem menos importante da estrutura criminosa”, disse. Para ele, a operação é exemplar por atingir “o andar de cima do sistema”.
Inteligência e integração entre órgãos
Lewandowski lembrou que, desde o início do ano, o ministério criou um núcleo de combate ao crime organizado para integrar informações de diferentes áreas. Ele detalhou que mais de 400 mandados judiciais foram cumpridos, todos com autorização da Justiça. “Nós logramos bloquear e sequestrar mais de R$ 3,2 bilhões em bens e valores. E, além disso, cumprimos 14 mandados de prisão e centenas de buscas e apreensões”, disse.
O ministro também ressaltou que a infiltração criminosa no setor de combustíveis já estava consolidada e exigia uma ação coordenada. A atuação envolveu a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal Federal, Receita Federal, Cade, Ministério de Minas e Energia e Coaf, além de ministérios públicos de dez estados e forças policiais locais.
PEC da Segurança e o desafio nacional
Lewandowski defendeu ainda a PEC da Segurança, enviada ao Congresso Nacional, que prevê uma cooperação permanente entre forças federais, estaduais e municipais. “Como o crime organizado não é mais local, mas nacional e até transnacional, é só o governo federal que pode fornecer as diretrizes para uma cooperação mais ampla ao nível federativo”, explicou.
O ministro enfatizou que a aprovação da PEC permitirá que operações como as de hoje não sejam apenas pontuais, mas se transformem em ações institucionais e permanentes no combate ao crime organizado.