BYD pretende liderar o mercado automotivo brasileiro até 2030, diz vice-presidente da marca
Alexandre Baldy da fabricante chinesa aposta na diversificação de produtos para consolidar a marca no Brasil
247 – A fabricante chinesa BYD, que vem revolucionando o mercado de veículos eletrificados no Brasil, traçou uma meta ambiciosa: ser a maior marca de automóveis do País até 2030. A declaração foi feita por Alexandre Baldy, vice-presidente da BYD do Brasil desde julho de 2024, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo.
Em menos de três anos, a montadora vendeu mais de 150 mil unidades no mercado brasileiro, conquistando o título de marca mais bem avaliada pelos consumidores, segundo pesquisa da consultoria Decoupling. Além disso, o modelo elétrico Dolphin Mini apresentou a menor desvalorização entre os veículos da categoria, superando até o popular Volkswagen Polo.
Expansão da produção e foco na nacionalização
Segundo Baldy, a BYD está comprometida em consolidar sua presença industrial no Brasil. A fábrica em Camaçari (BA), instalada no antigo complexo da Ford, já prepara o primeiro lote de veículos nacionais — os modelos Dolphin Mini, Song Pro e King — com entrega prevista para 9 de outubro. “Recentemente mostramos a planta para jornalistas e autoridades. Apenas nesta primeira fase de implantação, a área construída chega a 270 mil metros quadrados”, afirmou o executivo.
Por enquanto, os carros serão montados com peças importadas da China. A empresa solicitou ao governo federal a redução temporária do imposto de importação sobre kits CKD e SKD, o que gerou atrito com a Anfavea, associação que representa as fabricantes tradicionais instaladas no País. O governo mediou a disputa ao criar cotas de importação sem imposto e reduzir o cronograma de retomada da alíquota de 35%.
Baldy reforçou que a próxima fase da expansão da planta baiana incluirá as áreas de solda e pintura até 2026, consolidando a produção nacional e reduzindo a dependência de componentes importados.
Linha de luxo e supercarro milionário
Como parte de sua estratégia de diversificação, a BYD vai estrear no segmento de luxo com a marca Denza, criada em parceria com a Mercedes-Benz em 2011. “A Denza foi criada com foco em carros de luxo. Trouxemos o principal executivo da Porsche no Brasil para construir a nova estrutura”, afirmou Baldy, em referência a Werner Schaal, que comandou as vendas da marca alemã por oito anos.
O primeiro modelo da Denza no Brasil será o cupê Z9GT, seguido do SUV B5, com preços estimados acima de R$ 500 mil. Para reforçar o posicionamento premium, a empresa também trará o U9 Xtreme, supercarro elétrico da divisão Yangwang, avaliado em cerca de US$ 2,5 milhões (R$ 13,3 milhões). “Em outubro, vamos escolher quem poderá comprar o carro”, revelou o executivo.
Resultados expressivos e liderança em satisfação
A rápida ascensão da BYD impressiona. Em 2022, a empresa vendeu apenas 200 veículos no País. Dois anos depois, o número saltou para 77 mil unidades. O lançamento do Dolphin, em 2023, por R$ 149,8 mil, forçou as concorrentes a reduzirem preços e aplicar bônus de até R$ 100 mil em seus modelos elétricos.
Estudos recentes indicam que o Dolphin Mini desvalorizou apenas 7,8% entre agosto de 2024 e agosto de 2025 — menos da metade dos 17% registrados pelo Volkswagen Polo, o carro mais vendido do Brasil. Baldy destaca que esse dado desmonta o temor dos consumidores sobre a revenda de elétricos. “Quem compra quer saber se vai ou não perder dinheiro quando for vender o carro no futuro”, afirmou.
Brasil no centro da estratégia global
O Brasil é hoje o maior comprador mundial de veículos fabricados na China e tem potencial para se tornar um centro de produção regional. Além da BYD, outras marcas chinesas como GWM, Chery e Changan avançam no mercado nacional. Para o consultor Rogelio Golfarb, ex-presidente da Anfavea e ex-vice da Ford, o sucesso das marcas chinesas está ligado à inovação. “Com design contemporâneo e soluções avançadas de conectividade, elas mudaram a percepção do público”, afirmou.
O especialista ressalta, no entanto, que o grande desafio será consolidar a imagem de luxo. “Luxo está ligado a exclusividade. Isso deve ser percebido na pré-venda, na venda e no pós-venda. Todos os pontos de contato da marca precisam transmitir essa sensação”, destacou Golfarb.
BYD no Brasil: uma década de trajetória
A BYD chegou ao Brasil em 2015, inicialmente focada em ônibus, caminhões elétricos e painéis solares. A virada ocorreu em 2021, com o lançamento de carros de passeio como o SUV Tan EV e, posteriormente, o Song Plus e o Dolphin — modelo que impulsionou a eletrificação no mercado nacional.
Hoje, a empresa oferece a maior linha de veículos eletrificados do Brasil: oito modelos 100% elétricos e cinco híbridos. A BYD se consolidou como símbolo de inovação, eficiência energética e preço competitivo, desafiando as montadoras tradicionais e projetando o País como um polo de mobilidade sustentável na América Latina.


