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Zakharova acusa Europa de duplicidade ao tentar restaurar sanções contra o Irã

Porta-voz da diplomacia russa afirma que Reino Unido, França e Alemanha violaram a Resolução 2231 da ONU e expuseram o sistema internacional à erosão

Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria russa (Foto: TASS)

247 – Uma tentativa do Reino Unido, França e Alemanha de restaurar antigas sanções da ONU contra o Irã foi classificada como um ato de duplicidade pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova. As declarações foram feitas em seu canal no Telegram e repercutidas pela agência russa TASS.

Segundo Zakharova, os europeus acionaram de forma irregular o chamado snapback mechanism — procedimento que permitiria restaurar rapidamente as restrições do Conselho de Segurança contra Teerã. “As partes deveriam inicialmente considerar as reivindicações no mecanismo de resolução de disputas. E somente em caso de impasse total levar a questão ao Conselho de Segurança. Contrariando suas próprias alegações, Londres, Paris e Berlim ignoraram essas etapas e submeteram diretamente o documento ao Conselho”, afirmou.

Zakharova critica “truque ardiloso” e violação da Resolução 2231

A diplomata acusou os europeus de um “truque ardiloso” para contornar a Resolução 2231 da ONU, que regula o acordo nuclear com o Irã. Para ela, a manobra não apenas fere a legalidade, como também retira dos países europeus o direito de recorrer a mecanismos previstos em tratados internacionais.

“Isso parece uma duplicidade do ponto de vista do direito internacional: se você mesmo viola as regras, então perde o direito de usar os mecanismos nelas previstos. E eles são violadores em série da Resolução 2231”, declarou.

Zakharova ressaltou ainda que, quando determinadas restrições ao Irã expiraram em 18 de outubro de 2023, os europeus responderam impondo sanções próprias, à margem da ONU.

Rússia e China rejeitam tentativa europeia

A representante russa afirmou que o movimento dos europeus está ligado ao prazo do acordo nuclear, que expira em 18 de outubro de 2024. Segundo ela, Londres, Paris e Berlim estavam “sem tempo” e tentaram impor sua decisão antes do início da presidência russa no Conselho de Segurança.

Moscou e Pequim se opuseram à iniciativa, alegando que era necessário manter a integridade jurídica da resolução e buscar uma saída diplomática. “A questão não é apenas política, mas a aspiração de preservar a perfeição legal”, disse Zakharova.

Ela relatou que Rússia e China apresentaram, em 26 de setembro, uma última tentativa de manter a legitimidade e estender a Resolução 2231, o que poderia dar tempo para negociações e evitar uma escalada imprevisível. No entanto, os países ocidentais votaram contra.

“O Ocidente expôs o sistema à erosão”, diz Zakharova

Ao concluir, Zakharova acusou os europeus de violar dois princípios centrais do direito internacional: pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos) e a doutrina das mãos limpas. “O Ocidente expôs o sistema de freios e contrapesos à erosão”, criticou.

A crise revela mais um capítulo da disputa geopolítica em torno do programa nuclear iraniano e da validade do acordo firmado em 2015, abalado pela saída unilateral dos Estados Unidos em 2018 e pela contínua pressão das potências ocidentais.

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