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      Trump visita a sede do Fed e diz que não demitirá Powell

      Trump tem exigido repetidamente que o chair Jerome Powell reduza as taxas de juros dos EUA e tem levantado com frequência a possibilidade de demiti-lo

      U.S. President Donald Trump, Federal Reserve Chair Jerome Powell, and U.S. Senator Tim Scott (R-SC) tour the Federal Reserve Board building, which is currently undergoing renovations, in Washington, D.C., U.S., July 24, 2025. (Foto: REUTERS/Kent Nishimura)
      Guilherme Paladino avatar
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      (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que não demitirá o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, embora tenha reiterado após uma visita à sede do banco central norte-americano que ainda quer taxas de juros mais baixas.

      A rara visita presidencial ao Fed ocorre menos de uma semana antes de o banco central norte-americano se reunir para uma reunião de dois dias para decidir o patamar dos juros, na qual se espera que seja mantida a taxa de referência do banco central dos EUA na faixa de 4,25% a 4,50%.

      Trump tem exigido repetidamente que o chair do Fed, Jerome Powell, reduza as taxas de juros dos EUA e tem levantado com frequência a possibilidade de demiti-lo, embora tenha dito nesta quinta que não tomará essa medida.

      "Fazer isso é uma grande mudança e eu simplesmente não acho necessário", disse Trump em entrevista a repórteres após visitar as obras de uma reforma de US$2,5 bilhões em dois prédios históricos do Fed em Washington.

      A Casa Branca tem criticado a reforma como excessivamente cara e luxuosa, escalando as tensões entre o governo e a instituição independente responsável pela política monetária do país.

      Trump deixou claro que reduzir os juros ainda é uma prioridade.

      "Eu adoraria que ele baixasse as taxas de juros", disse Trump durante a visita desta quinta, enquanto Powell permanecia de pé, com o rosto inexpressivo.

      Os dois, usando capacetes de construção, caminharam lado a lado pelo local. O encontro se tornou tenso quando Trump disse aos repórteres que a reforma estava agora estimada em US$3,1 bilhões.

      "Não estou ciente disso", disse Powell, balançando a cabeça. Trump lhe entregou um pedaço de papel, que Powell examinou. "Você acabou de adicionar um terceiro prédio", disse o chair do Fed, afirmando que o Edifício Martin já havia sido concluído há cinco anos.

      Elevado por Trump ao cargo mais alto do Fed em 2018 e renomeado pelo ex-presidente Joe Biden quatro anos depois, Powell se reunira pela última vez com Trump em março, quando o presidente o convocou à Casa Branca para pressioná-lo a reduzir os juros.

      Powell normalmente passa as tardes de quintas antes de uma reunião de juros do Fed em conversas consecutivas com os demais membros do Fed como parte de seus preparativos para a sessão.

      A visita ocorreu no momento em que Trump busca desviar a atenção de uma crise política devido à recusa de seu governo em liberar arquivos relacionados ao criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein, revertendo uma promessa de campanha. Epstein morreu em 2019.

      As autoridades da Casa Branca intensificaram a campanha de pressão de Trump sobre Powell nas últimas semanas, acusando o Federal Reserve de administrar mal a reforma de US$2,5 bilhões de dois prédios históricos em Washington e sugerindo falhas na supervisão e possível fraude.

      O diretor do orçamento da Casa Branca, Russell Vought, estimou o custo excedente em "US$700 milhões e contando", e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, solicitou uma ampla revisão das operações de política não monetária do Fed, citando as perdas operacionais do banco central como um motivo para questionar seus gastos com a reforma.

      Essas perdas decorrem do mecanismo de gerenciamento da taxa de juros do Fed para combater a inflação, que inclui o pagamento aos bancos para que depositem dinheiro no banco central. O Fed relatou um prejuízo líquido de US$114,6 bilhões em 2023 e de US$77,5 bilhões em 2024, uma reversão em relação a anos de grandes lucros que ele repassou ao Tesouro quando as taxas de juros -- e a inflação -- estavam baixas.

      O Fed, em cartas enviadas à Vought e a parlamentares com o apoio de documentos publicados em seu site, afirma que a obra -- a primeira reforma completa de seus dois prédios em Washington desde que foram construídos há quase um século -- enfrentou desafios inesperados, incluindo o descarte de materiais tóxicos e custos de materiais e mão de obra mais altos do que o estimado.

      "MANTER SUA INDEPENDÊNCIA"

      Antes da visita de Trump, a equipe do Fed acompanhou um pequeno grupo de repórteres pelos canteiros de obras. Eles se movimentaram em torno de betoneiras e máquinas de construção e falaram ao som de furadeiras, batidas e serras. A equipe do Fed apontou os elementos de segurança, incluindo janelas resistentes a explosões, que, segundo eles, foram um fator significativo de custos, além das tarifas impostas pelos EUA a parceiros comerciais e dos aumentos nos custos de materiais e mão de obra.

      O projeto de renovação começou em meados de 2022 e está em vias de ser concluído em 2027, com a mudança planejada para março de 2028. Uma visita ao telhado do Eccles Building -- um ponto de atenção especial por parte dos críticos da Casa Branca, que alegavam que as reformas eram ostensivas -- revelou uma vista impressionante do Lincoln Memorial e do National Mall, segundo os repórteres que visitaram o local.

      Os funcionários explicaram que os assentos no telhado, embora baratos, foram removidos por parecerem uma comodidade e foi um dos dois únicos desvios do plano original. A outra foi a eliminação de algumas fontes planejadas.

      O vice-chefe de gabinete da Casa Branca, James Blair, disse esta semana que as autoridades do governo visitariam o Fed nesta quinta-feira. O presidente do Comitê Bancário do Senado, Tim Scott, um republicano que enviou uma carta a Powell na quarta-feira fazendo uma série de perguntas sobre o custo e outros detalhes da reforma, bem como sobre as declarações do próprio Powell a respeito, também faz parte da visita.

      A reação do mercado à visita de Trump foi moderada. O rendimento dos títulos de referência do Treasury de 10 anos subiu depois que os dados mostraram que os novos pedidos de auxílio-desemprego caíram na semana mais recente, sinalizando um mercado de trabalho estável que não precisa do apoio de um corte nas taxas do Fed. As ações em Wall Street ficaram mistas.

      As críticas de Trump a Powell e o flerte com a possibilidade de demiti-lo já haviam perturbado os mercados financeiros e ameaçado uma das principais bases do sistema financeiro global: o fato de os bancos centrais serem independentes e livres de interferências políticas.

      Sua visita contrasta com um punhado de outras visitas presidenciais documentadas ao Fed. O então presidente Franklin Delano Roosevelt visitou o banco central em 1937 para dedicar a sede recém-construída, que é um dos dois prédios do Fed que estão sendo reformados atualmente. Mais recentemente, o ex-presidente George W. Bush foi ao Fed em 2006 para participar da cerimônia de posse de Ben Bernanke como chair.

      "Acho que é importante que ele envie um sinal de que realmente não está satisfeito com o andamento das coisas no Federal Reserve", disse a senadora Cynthia Lummis, uma republicana do Comitê Bancário do Senado. Ela disse que a visita foi uma "boa decisão" de Trump.

      O senador Mike Rounds, outro republicano que faz parte do Comitê Bancário do Senado, disse na quinta-feira que também não via problemas com a visita de Trump, embora tenha acrescentado que a independência de Powell como chair do Fed é fundamental para os mercados. "Acho que ele está fazendo um bom trabalho nesse sentido".

      "Acho que quanto mais informações o presidente puder obter com isso, provavelmente melhor será para resolvermos quaisquer questões pendentes", disse Rounds.

      Os ex-chefes do Federal Reserve Janet Yellen e Bernanke escreveram esta semana um artigo de opinião no New York Times alertando que a crença do público de que o banco central dos EUA está disposto a tomar decisões difíceis com base em dados e independente de política "é um importante ativo nacional".

      "É difícil de adquirir e fácil de perder", disseram.

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