Trump amplia uso de tarifas para atingir objetivos de segurança nacional
Documentos revelam que o presidente dos EUA tem usado negociações comerciais para impor demandas militares, energéticas e ambientais a aliados e rivais
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem expandido de forma agressiva o uso de tarifas comerciais como instrumento de política externa e segurança nacional, segundo documentos internos obtidos pelo The Washington Post. As informações mostram que, além de buscar reduzir o déficit comercial norte-americano, sua administração tem condicionado acordos comerciais a exigências militares, diplomáticas e até ambientais, beneficiando também empresas específicas.
De acordo com a reportagem do Washington Post, autoridades do Departamento de Estado chegaram a considerar pressionar parceiros comerciais a votarem contra um pacto global de redução das emissões de gases de efeito estufa por navios cargueiros. A medida, que envolveria países como Singapura, teria sido inserida diretamente nas negociações comerciais bilaterais.
Pressões ligadas a aliados e rivais estratégicos
Os documentos mostram que, em abril, após suspender temporariamente suas tarifas “recíprocas” para permitir negociações, Trump orientou assessores a usar os acordos para fortalecer a presença militar dos EUA em regiões próximas à China, incentivando a compra de equipamentos bélicos e a realização de visitas navais.
As exigências incluíam, por exemplo, que Israel encerrasse o controle de uma empresa chinesa sobre um porto estratégico em Haifa, e que a Coreia do Sul apoiasse publicamente o deslocamento de tropas americanas para conter a China e a Coreia do Norte, além de elevar seus gastos militares de 2,6% para 3,8% do PIB.
Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA, afirmou: “Esta é a primeira vez que vejo esse tipo de solicitação em um acordo comercial. Quando você está à mesa de negociações, não é disso que se fala”.
Ameaças de tarifas como ferramenta de coerção
Trump também ameaçou impor tarifas de 50% sobre produtos da Índia para forçar o país a interromper a compra de petróleo russo e, no mês passado, fez a mesma ameaça ao Brasil, caso o governo não encerrasse o processo contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Em janeiro, ameaçou a Colômbia com tarifas similares até obter a aceitação de deportados.
Segundo Phil Luck, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, essa estratégia explica por que muitos países evitaram retaliar com tarifas próprias: “Eles não acham que é apenas competição econômica. Têm medo de que possamos ir além e mudar posicionamentos militares”.
Contenção da influência chinesa e interesses corporativos
Parte das exigências mirava diretamente a presença chinesa em portos e instalações estratégicas, como em Darwin, na Austrália, e na base naval de Ream, no Camboja. Em alguns casos, Washington solicitou estudos para remover equipamentos de telecomunicação de empresas chinesas como Huawei e ZTE, e até supervisão de instalações espaciais na Argentina para garantir uso civil.
Os documentos revelam ainda demandas para beneficiar empresas como a Chevron, impedindo que Israel a obrigasse a vender ativos de gás natural, e a Starlink, de Elon Musk, com pedidos para eliminar barreiras legais em países como Lesoto.
A Chevron declarou: “Conversamos regularmente com autoridades e partes interessadas, focando nos benefícios que acreditamos levar às comunidades onde atuamos”.
Disputa ambiental na rota comercial
Um dos pontos mais recentes envolve a tentativa do governo Trump de barrar um acordo internacional da Organização Marítima Internacional (IMO) para reduzir emissões de navios cargueiros, classificado como “imposto global sobre carbono” em memorando interno. O documento instruía que países interessados em acordos comerciais com os EUA deveriam votar contra a proposta na reunião de outubro.
Ao ser questionado, o Departamento de Estado disse apenas: “Não comentamos documentos supostamente vazados. Mas esperamos contar a história de como o governo Trump está usando negociações comerciais recíprocas para beneficiar e lutar pelo povo americano”.
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