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      Putin exige que Ucrânia entregue Donbass, desista da OTAN e impeça tropas ocidentais no país

      Proposta discutida em encontro entre Putin e Trump em Anchorage inclui congelamento de frentes em Zaporizhzhia e Kherson

      Presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou - 23/6/2025 (Foto: Sputnik/Alexander Kazakov/Pool via REUTERS)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, apresentou novas exigências para um possível acordo de paz com a Ucrânia, segundo revelou reportagem da Reuters. As condições incluem a retirada total das forças ucranianas do Donbass, a renúncia definitiva à entrada na OTAN, a manutenção da neutralidade do país e a proibição da presença de tropas ocidentais em solo ucraniano.

      As negociações avançaram durante o encontro entre Putin e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizado em Anchorage, no Alasca, na última sexta-feira. Foi a primeira cúpula entre os dois países em mais de quatro anos, e praticamente todo o diálogo de três horas foi dedicado ao tema da guerra na Ucrânia.

      Exigências de Moscou

      De acordo com três fontes próximas ao Kremlin ouvidas pela Reuters, a Rússia estaria disposta a congelar as linhas de frente em Zaporizhzhia e Kherson, províncias no sul da Ucrânia, caso Kiev aceite abrir mão do restante do Donbass. Moscou já controla cerca de 88% dessa região, além de 73% dos territórios de Zaporizhzhia e Kherson.

      Putin também propõe devolver pequenas áreas das regiões de Kharkiv, Sumy e Dnipropetrovsk atualmente sob controle russo. Em contrapartida, exige que a Ucrânia abandone formalmente a intenção de ingressar na OTAN e que haja um compromisso legal da aliança militar de não se expandir ainda mais para o leste. Outro ponto central é a exclusão de qualquer missão de paz composta por tropas ocidentais.

      “Putin está pronto para a paz – para o compromisso. Essa foi a mensagem transmitida a Trump”, afirmou uma das fontes consultadas pela agência.

      A posição da Ucrânia

      O governo de Volodymyr Zelensky reagiu de forma categórica. Em coletiva recente, o presidente ucraniano declarou:

       “Se estamos falando em simplesmente nos retirarmos do leste, não podemos fazer isso. É uma questão de sobrevivência do nosso país, envolvendo as linhas defensivas mais fortes.”

      Zelensky lembrou que a adesão à OTAN é um objetivo estratégico consagrado na Constituição da Ucrânia e ressaltou que Moscou não tem autoridade para determinar as alianças do país.

      Trump como “presidente pacificador”

      Trump, que vem insistindo em encerrar o que chamou de “banho de sangue”, disse acreditar que Putin deseja realmente pôr fim ao conflito. Em declarações ao lado de Zelenskiy na Casa Branca, afirmou:

       “Acredito que Vladimir Putin quer ver isso terminado. Tenho confiança de que vamos resolver.”

      Segundo a Reuters, o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, foi peça-chave na preparação da cúpula no Alasca. Witkoff já havia se reunido com Putin no Kremlin no início de agosto, quando ouviu em detalhes os contornos da proposta russa.

      Dúvidas e obstáculos

      Apesar do gesto diplomático, persiste um impasse fundamental: a exigência de Moscou para que Kiev ceda território internacionalmente reconhecido. Especialistas avaliam que essa condição torna improvável qualquer avanço real.

      O cientista político Samuel Charap, da RAND Corporation, avaliou que a proposta pode ter mais valor simbólico do que prático:

       “A abertura para uma ‘paz’ em termos categoricamente inaceitáveis para o outro lado pode ser mais uma performance para Trump do que sinal de verdadeira disposição para o compromisso.”

      Líderes de Reino Unido, França e Alemanha já manifestaram ceticismo quanto à disposição de Putin em encerrar a guerra. Além disso, permanece incerto se os Estados Unidos reconheceriam as áreas ocupadas pela Rússia e se Kiev aceitaria perder o Donbass.

      Próximos passos

      Segundo fontes russas, há diferentes caminhos possíveis para formalizar um acordo, incluindo um tratado tripartite entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, a ser reconhecido pelo Conselho de Segurança da ONU. Outra alternativa seria retomar a proposta discutida em Istambul em 2022, que previa neutralidade permanente da Ucrânia em troca de garantias de segurança das cinco potências nucleares.

      Enquanto isso, Moscou deixa claro: se Kiev não aceitar os termos, “a guerra continuará”.

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