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      Pentágono bloqueia discretamente ataques da Ucrânia com mísseis de longo alcance contra a Rússia

      Revisão secreta do Departamento de Defesa limita o uso dos Atacms e revela divisão interna nos EUA sobre apoio militar a Kiev

      Vladimir Putin e Donald Trump - 15 de agosto de 2025 (Foto: Reuters)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O jornal Wall Street Journal revelou nesta segunda-feira (25) que o Pentágono tem bloqueado, há meses, o uso de mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos à Ucrânia contra alvos em território russo. Segundo autoridades norte-americanas ouvidas pela publicação, desde o final da primavera Kiev não recebeu autorização para empregar os sistemas Army Tactical Missile Systems (Atacms), que possuem alcance de quase 300 quilômetros.

      De acordo com a reportagem, em pelo menos uma ocasião a Ucrânia solicitou autorização para disparar contra um alvo dentro da Rússia, mas a requisição foi rejeitada. Essa política de veto tem restringido as operações militares ucranianas em meio aos esforços da Casa Branca para convencer o Kremlin a iniciar negociações de paz.

      Revisão secreta e poder de veto

      O mecanismo de revisão foi desenvolvido por Elbridge Colby, subsecretário de Política do Pentágono. O sistema exige aprovação final do secretário de Defesa, Pete Hegseth, sempre que a Ucrânia deseja utilizar mísseis de longo alcance, sejam eles fabricados nos EUA ou em países europeus que dependem de inteligência e componentes norte-americanos.

      A medida, na prática, reverte a decisão do presidente Joe Biden, em seu último ano de mandato, de permitir que a Ucrânia utilizasse Atacms contra alvos em território russo.

      Trump mantém veto, mas admite mudança de postura

      O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem repetido publicamente que deseja o fim da guerra. “O presidente Trump tem sido muito claro de que a guerra na Ucrânia precisa acabar. Não houve mudança na postura militar em relação ao conflito Rússia-Ucrânia neste momento”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.

      Em uma publicação recente nas redes sociais, Trump destacou: “É muito difícil, senão impossível, vencer uma guerra sem atacar o país invasor. Não há chance de vitória!”. Apesar da declaração, autoridades afirmaram ao Wall Street Journal que isso não representa uma mudança imediata na política de restrições.

      Vale lembrar que, ainda como presidente eleito, Trump havia classificado como “estúpida” a decisão de Biden de autorizar ataques ucranianos dentro da Rússia: “Estamos apenas escalando esta guerra e tornando-a pior”, disse em entrevista à revista Time em dezembro passado.

      Novos armamentos e restrições adicionais

      Embora o fornecimento de novos Atacms não esteja previsto, o governo dos EUA aprovou recentemente um pacote de 850 milhões de dólares em armamentos, financiado em sua maioria por países europeus. Entre os itens, estão 3.350 mísseis de ataque aéreo Extended Range Attack Munition (ERAMs), com alcance entre 240 e 450 quilômetros, cuja utilização também dependerá de autorização do Pentágono.

      A política de restrições não se limita aos Atacms. Autoridades informaram que o mesmo mecanismo se aplica a mísseis Storm Shadow, de fabricação britânica, uma vez que dependem de dados de inteligência fornecidos por Washington.

      Drones e alternativas desenvolvidas por Kiev

      Enquanto enfrenta limitações no uso de armas ocidentais, a Ucrânia tem apostado em sistemas de longo alcance de fabricação própria, sobretudo drones. Essas aeronaves não tripuladas já foram usadas para atacar refinarias de petróleo e bases aéreas dentro da Rússia. O presidente Volodymyr Zelensky anunciou ainda o desenvolvimento de um novo míssil de cruzeiro, chamado Flamingo, que poderia entrar em produção em massa até o fim deste ano ou início de 2026.

      Para especialistas, como James Townsend, ex-funcionário do Pentágono para assuntos da Otan durante o governo Barack Obama, restringir o uso dos Atacms enfraquece a capacidade da Ucrânia de pressionar Moscou: “Drones são úteis para certas missões, mas também têm vulnerabilidades. Não se deve limitar a capacidade ucraniana de impor custos à Rússia”, afirmou.

      Equilíbrio entre apoio e estoques militares

      Segundo o Wall Street Journal, Colby também estabeleceu uma classificação interna que divide as armas em categorias verde, amarela e vermelha, conforme a disponibilidade nos arsenais norte-americanos. Essa medida permite ao secretário Hegseth reter sistemas inicialmente prometidos a Kiev quando considerados críticos para a segurança dos EUA, em especial diante da preocupação do Pentágono em preservar recursos para enfrentar a China em um eventual conflito no futuro.

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