Maior flotilha rumo a Gaza parte da Espanha em missão humanitária
Centenas de voluntários de mais de 40 países se unem na Flotilha Global Sumud para romper bloqueio israelense e entregar ajuda à população palestina
247 - Ativistas, jornalistas, políticos e apoiadores de diferentes partes do mundo se reuniram em Barcelona, na Espanha, para a partida da maior flotilha já organizada em direção à Faixa de Gaza. A missão, batizada de Flotilha Global Sumud, tem como objetivo romper o bloqueio imposto por Israel e entregar exclusivamente ajuda humanitária à população palestina.
Segundo a Al Jazeera, o evento aconteceu no histórico salão da UGT, um dos sindicatos mais antigos da Espanha, que no passado serviu como centro de registro de voluntários internacionais durante a Guerra Civil Espanhola. Agora, esse espaço abriga a preparação de centenas de participantes que embarcarão em cerca de 100 barcos, partindo inicialmente da Espanha e seguindo para a Tunísia, onde receberão reforços de outras embarcações.
Durante os últimos dias, voluntários de 42 países participaram de treinamentos intensivos em Barcelona. Os organizadores destacaram que a ação deve permanecer inteiramente pacífica, mesmo diante de possíveis cenários como interceptações em águas internacionais, prisões ou agressões.
“Não somos heróis. Não somos a história. A história é o povo de Gaza”, declarou o brasileiro Thiago Ávila, ativista ambiental e em defesa da Palestina, durante coletiva antes da partida. Ele ressaltou que a flotilha busca não apenas entregar suprimentos, mas abrir um corredor humanitário diante do risco de fome e massacres.
Cada participante assinou um código de conduta que reforça o compromisso com a resistência pacífica, inspirado em exemplos históricos de lutas não violentas, como a de Mahatma Gandhi na Índia e a de Rosa Parks nos Estados Unidos.
A iniciativa carrega riscos consideráveis. Desde 2010, todas as tentativas de flotilhas para Gaza foram interceptadas por Israel. A mais trágica ocorreu em maio daquele ano, quando comandos israelenses mataram dez ativistas a bordo da chamada Flotilha da Liberdade, que transportava mais de 600 passageiros.
Mais recentemente, em junho deste ano, o navio Madleen foi apreendido ilegalmente por forças israelenses a 185 quilômetros da costa de Gaza, em águas internacionais. A embarcação tinha entre seus tripulantes a ativista sueca Greta Thunberg, que acabou detida e deportada.
Entre os voluntários que zarparão rumo a Gaza está a colombiana Luna Valentina, de 24 anos, que vive exilada na Jordânia ao lado do marido, um refugiado palestino. Ela contou à Al Jazeera que sofreu perseguição política em seu país e enfrentou racismo na Europa. Agora, diz encontrar força na solidariedade feminina e na esperança de levar auxílio à população palestina.
Ainda conforme a reportagem, durante os preparativos, Barcelona se transformou em palco de manifestações culturais e políticas em apoio à flotilha. Milhares de pessoas participaram de festivais de música, arte e performances no Moll de la Fusta, onde bandeiras palestinas e tambores criaram um ambiente de resistência e celebração.
Para Thiago Ávila, que se tornou pai recentemente, o compromisso é também pessoal. “Amo muito minha filha, como mães e pais em Gaza amam seus filhos, e é por esse amor que não podemos deixar o mundo assim. Temos que mudar a sociedade que permite um genocídio acontecer”, disse o ativista.
Uma mãe australiana de quatro filhos, também voluntária na missão, emocionou-se ao afirmar que “ninguém deveria viver e morrer dessa forma. Todos merecem a mesma dignidade e liberdade”.