Jeffrey Sachs prevê isolamento ainda maior de Israel
Economista critica acordo entre Trump e Netanyahu e alerta para colapso econômico e político caso não haja criação do Estado da Palestina
247 – Em entrevista ao canal Judging Freedom, conduzido pelo juiz Andrew Napolitano e publicada no YouTube, o economista norte-americano Jeffrey Sachs fez duras críticas ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Para Sachs, o suposto acordo entre os dois líderes é “meia-boca”, não envolve negociações reais e, sobretudo, exclui os palestinos do processo.
“É absurdo chamar isso de acordo porque o Hamas não vai aceitá-lo. Trata-se apenas de um acerto entre o primeiro-ministro de Israel e o presidente dos Estados Unidos”, afirmou. Segundo ele, a proposta norte-americana não ataca a raiz do conflito e serve apenas para reforçar a posição de Netanyahu, que já declarou na ONU que “sob nenhuma circunstância haverá um Estado da Palestina”.
O falso acordo e a exclusão palestina
Sachs destacou que a paz só seria possível com duas medidas vinculadas: o reconhecimento do Estado da Palestina e o fim das ações armadas contra Israel. “O que traria paz seria a criação de um Estado da Palestina ao lado do Estado de Israel e o fim do Hamas como força militar. Assim, haveria um acordo político e de segurança”, explicou.
No entanto, o economista observou que o plano de Trump limita-se a exigir a rendição do Hamas, prometendo apenas uma vaga possibilidade de retirada israelense de Gaza. Além disso, o acordo prevê a criação de um “Conselho da Paz”, presidido pelo próprio Trump, com participação de figuras como o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. “Quando você ouve Donald Trump, Tony Blair e o Banco Mundial, só pode pensar: que Deus nos ajude”, ironizou Sachs, lembrando que Blair foi um dos principais defensores da guerra no Iraque.
Crise econômica e isolamento internacional
Outro ponto central da análise de Sachs foi o impacto da guerra e da política de Netanyahu sobre a economia israelense. Segundo ele, o país sofre com a fuga de talentos, o colapso do turismo e o esvaziamento populacional. “Israel está sangrando pessoas e talentos. Mais de três quartos dos países do mundo já reconhecem o Estado da Palestina, enquanto Israel insiste em negá-lo. Isso só aumentará o isolamento internacional”, afirmou.
Sachs ressaltou ainda que Netanyahu, para manter sua coalizão de extrema-direita, jamais permitirá avanços rumo a um Estado palestino. Pelo contrário, intensifica a propaganda contra a Cisjordânia e alimenta um projeto de anexação definitiva dos territórios ocupados. “Netanyahu não é um homem de paz. É alguém com sangue nas mãos e que governa ao lado de extremistas igualmente sanguinários”, criticou.
O cinismo no discurso de Netanyahu
O economista também comentou o discurso de Netanyahu na ONU, em que o premiê israelense afirmou ter invadido os celulares de palestinos para intimidar o Hamas. “Que vergonha. Ele diz ‘deixem meu povo ir’, enquanto escraviza e assassina milhões de palestinos. Isso é perversidade”, disse.
Para Sachs, o cenário indica a continuidade da guerra, a ampliação da violência para a Cisjordânia e o agravamento do isolamento de Israel até que a comunidade internacional imponha uma solução baseada no direito internacional e no reconhecimento do Estado da Palestina. Assista: